28 outubro 2010

6ª Lição - Teorias Platónicas






Teoria das Ideias
 
 


De um lado, os nossos conceitos são universais, necessários, imutáveis e eternos (Sócrates), do outro, tudo no mundo é individual, contingente e transitório (Heraclito).
Deve existir, além do fenomenal, um outro mundo de realidades, objectivamente dotadas dos mesmos atributos dos conceitos subjectivos que as representam. Estas realidades chamam-se Ideias.
As ideias não são, pois, no sentido platónico, representações intelectuais, formas abstractas do pensamento, são realidades objectivas, modelos e arquétipos eternos de que as coisas visíveis são cópias imperfeitas e fugazes.
Assim a ideia de homem é o homem abstracto perfeito e universal de que os indivíduos humanos são imitações transitórias e defeituosas.
Todas as ideias existem num mundo separado, o mundo inteligível, situado na esfera celeste.
A certeza da sua existência funda-a Platão na necessidade de salvar o valor objectivo dos nossos conhecimentos



 

O divino platónico é representado pelo mundo das ideias e especialmente pela ideia do Bem, que está no vértice. (Tríade: Bem, Belo, Verdade)
A existência desse mundo ideal seria provada pela necessidade de estabelecer uma base ontológica, um objecto adequado ao conhecimento conceptual.
Esse conhecimento, aliás, impõe-se ao lado e acima do conhecimento sensível, para poder explicar verdadeiramente o conhecimento humano na sua efectiva realidade. E, em geral, o mundo ideal é provado pela necessidade de justificar os valores, o dever ser, de que este nosso mundo imperfeito participa e a que aspira

 

Admitindo que o mundo sensível, o mundo das aparências, do devir, está constantemente sujeito às mudanças, Platão infere que qualquer tentativa de um entendimento mais profundo sobre a realidade partindo de nossos sentidos jamais daria segurança o bastante para conhecermos a realidade em si mesma.Ao mundo das aparências, reserva-nos o terreno das doxas, das opiniões, sejam elas verdadeiras ou falsas, mas sem os fundamentos necessários e suficientes para que se imponham como uma leitura fidedigna daquilo que está para além das aparências, do que muda.Logo, o conhecimento sensível não é o suficiente para se chegar ao Ser de algo. A ele, contrapõe-se então o mundo inteligível, distinto dos fenómenos, do devir, para se basear em Ideias Fundamentais, Formas Puras, que se desdobram até que possamos perceber meras aparências delas através dos sentidos físicos; sombras.







As Ideias caracterizam-se como causa e modelo da realidade material, tendo uma existência independente do mundo sensível
Estabelece uma ruptura entre o plano inteligível e plano sensível
As Ideias, entendidas como arquétipos, são fundamento e critério de avaliação da realidade sensível
O mundo sensível só existe na medida em que participa do mundo das ideias



"Escola de Platão" Mosaico , séc. I a.C.; Pompeia







TEORIA da PARTICIPAÇÃO



“Se alguma coisa bela existe além do Belo em si, a única e exclusiva razão de ser bela é o facto de participar desse mesmo Belo”(Fédon, 100c)
O plano sensível deve a sua existência à relação de participação no plano inteligível
O conceito de participação é o que permite a inteligibilidade deste mundo sensível
A participação é a razão de ser que introduz ordem e razão de ser neste mundo.






TEORIA da REMINISCÊNCIA




O conhecimento é definido como um reconhecimento, um percurso de anamnese, ou seja, um esforço para recordar aquilo que a alma já sabia antes de habitar o corpo.
É a presença do inteligível nos entes sensíveis que nos desperta a recordação dessas realidades em si, das quais a alma se esquece quando se une ao corpo.

A Teoria da Reminiscência é ilustrada no diálogo "Fedro", de Platão, onde existe um texto chamado “O Mito do Carro Alado”.
Nele, Platão compara nossa alma a um carro alado. Tudo o que nós fazemos de bom, dá forças às nossas asas. Tudo o que nós fazemos de errado, prejudica as nossas asas e tira as suas forças.
Ao longo do tempo, fizemos tantas coisas erradas que nossas asas perderam as suas forças e, sem elas para nos sustentarmos, caímos no Mundo Sensível.
Depois de despertar no Mundo Sensível, a alma consegue apenas uma pequena lembrança do Mundo Inteligível, uma mera recordação. Esta é a Teoria da Reminiscência




No Diálogo "Ménon", Platão narra o problema da Reminiscência discutido entre Sócrates e Ménon. Sócrates afirma neste diálogo que a alma é imortal.
Também afirma que a alma já contemplou todas as coisas existentes. A alma no decorrer da vida vai-se se lembrando aos poucos das coisas que antes sabia.
O que os homens chamam aprender, na verdade é lembrar.
Neste mesmo diálogo, Sócrates pede a Ménon para chamar um de seus escravos para fazer a demonstração da sua teoria,
Sócrates começa a fazer perguntas ao escravo. O assunto, que era Geometria, era tido para Ménon, como um assunto desconhecido do escravo. Na medida em que Sócrates fazia perguntas ao escravo, o escravo foi-se lembrando do assunto que antes contemplara no Mundo Inteligível.
Por não se ter conseguido lembrar de tudo, o escravo a partir daquele momento tentaria buscar a verdade.
Sócrates fez com que o escravo extraísse o conhecimento de si mesmo. Essa é a Reminiscência.


 


5ª Lição - Introdução aos Temas Platónicos. Análise da Alegoria da Caverna



Platão - Alegoria da Caverna

https://www.youtube.com/watch?v=j0rnWv-GPaM



Para ilustrar esse facto, Platão utiliza a Alegoria da Caverna, onde homens amarrados no fundo de uma caverna, virados de costas para sua entrada, têm uma fogueira atrás de si, junto à entrada da caverna.
A única coisa que conseguem ver do mundo lá fora são as sombras de outras pessoas e de coisas que passam pela entrada da caverna, projectadas pelo fogo.
Essas sombras são as únicas informações a que esses homens têm acesso em relação à realidade que podem perceber através dos sentidos.
E é preciso então um esforço em direcção à razão para que eles se desvinculem da caverna e possam ver a Verdade sobre o que a aparência apenas dissimula.


O filósofo é o fugitivo capaz de fugir das amarras que prendem o homem comum às suas falsas crenças e, partindo na busca da verdade, consegue apreender um mundo mais amplo. Ao falar destas verdades aos homens presos às suas impressões, não seria compreendido e seria tomado por mentiroso, um corruptor da ordem vigente.
A Alegoria da caverna é uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz respeito à importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de superação da ignorância, isto é, a passagem gradual do senso comum enquanto visão de mundo e explicação da realidade para o conhecimento filosófico, que é racional, sistemático e organizado, que busca as respostas não no acaso, mas na causalidade.
Segundo a metáfora de Platão, o processo para a obtenção da consciência abrange dois domínios: o domínio das coisas sensíveis e o domínio das ideias (diánoia e nóesis). Para o filósofo, a realidade está no mundo das ideias e a maioria da humanidade vive na condição da ignorância, no mundo ilusório das coisas sensíveis, no grau da apreensão de imagens, as quais são mutáveis, corruptíveis e por isso não devem ser considerados os verdadeiros objectos de conhecimento.




Imagens (Metáforas) Conceitos Prisioneiros presos na caverna - Condição humana
Trevas, confusão e sombras - Ignorância
Dificuldade de olhar a luz - Força dos velhos hábitos
Resistência dos prisioneiros - Conformismo
Etapas da ascensão até ao mundo exterior - Eliminação de Preconceitos
Perturbação dos prisioneiros - Espanto Filosófico
Contemplação da luz do sol - Conhecimento da Verdade
Compreensão da situação vivida na caverna - Tomada de Consciência
O regresso do Filósofo à caverna - Dever do Filósofo
Partilha da verdade
Riscos de falar a verdade - Alusão à morte de Sócrates
Dificuldade em viver de novo nas trevas - Sofrimento voluntário



Não temos consciência da nossa Ignorância
A natureza humana procura o caminho mais fácil
A verdade acarreta sofrimento
Reconhecimento da Ignorância
Riscos da Verdade

Problema do Conhecimento
Problema Ontológico – o que é a realidade?
Problema Axiológico – valores
Problema Existencial – sentido da vida

Dialética

Para Platão, a Dialética, é um método filosófico de conhecimento, é o caminho percorrido pelo espírito, que tem o objectivo de sair do mundo sensível e chegar ao Mundo das Idéias.
Platão transmite essa concepção através do Mito da Caverna, do livro VII - A República, onde conforme a narrativa, podemos ver o caminho ascendente, e o conhecimento gradual da realidade, paralelamente, da caverna para o mundo exterior

14 outubro 2010

4ª Lição - Demócrito, Platão, Pitágoras


ESTÉTICA na FILOSOFIA

Na Grécia Antiga, a Estética desenvolveu-se a par das Artes Visuais, bem como da Filosofia e das correntes humanistas.
Alguns pensadores formularam teorias da arte com base na prática de artistas, outros pelo contrário influenciaram artistas com as suas teorias.
Ex. A utilização de Canons na Escultura, decorre da filosofia pitagórica
As primeiras teorias estéticas tratam da poesia, por ser o género com que os filósofos estavam mais familiarizados

DEMÓCRITO

Demócrito de Abdera (cerca de 460 a.C. - 370 a.C) é tradicionalmente considerado um filósofo pré-socrático.
Cronologicamente é um erro, já que foi contemporâneo de Sócrates. Do ponto de vista doutrinário, contudo, faz algum sentido considerá-lo pré-socrático, pois seu pensamento ainda é fortemente influenciado pela problemática da physis.
Demócrito foi discípulo e depois sucessor de Leucipo de Mileto. A fama de Demócrito decorre do facto de ele ter sido o maior expoente da teoria atómica ou do atomismo.

Demócrito faz depender a Arte da Natureza.
Afirma o seguinte:
“Fomos todos alunos dos animais em matérias de grande importância: da aranha, na arte de tecer, da tartaruga na arte de construir casas (…)”
A arte imita a natureza (Mimesis)

Demócrito debruça-se sobre o tema dos efeitos da arte:
“Grandes alegrias derivam da contemplação de belos trabalhos artísticos”
Demócrito era um Hedonista, que via todas as coisas do ponto de vista do prazer que daí poderia vir.
Relação entre: Beleza, Contemplação e Alegria

Inspiração

Origem da arte criativa: Poiesis
Poesia: Criação
Passar do não ser ao ser
A criatividade é em Demócrito um estado especial da mente, diferente do vulgar
Esta tese dará origem à associação entre Inspiração e “possessão divina”, ou “loucura das musas”

CÍCERO, Sobre o Orador, II, 46, 194.
Muitas vezes ouvi dizer que não pode existir (afirmação atribuída a Demócrito e Platão) nenhum bom poeta sem entusiasmo da alma e sem um sopro como que de loucura.
Arte Divinatória, I, 38, 80.
Pois Demócrito diz que nenhum poeta pode ser grande sem loucura, afirmação idêntica à de Platão.

HORACIO, Arte Poética, 295.
Demócrito acreditou que o génio é mais fecundo que uma arte pobre e excluiu do Helicão os poetas saudáveis...
18. CLEMENTE DE ALEXANDRIA, Tapeçarias, VI, 168.
Um poeta, tudo o que ele escreve com entusiasmo é sopro sagrado, sem dúvida, belo...
102, Fragmento, 68.
Em tudo é belo o equilíbrio, mas não, parece-me, o excesso e a carência


Demócrito tem uma posição dúbia entre o ponto de vista mitológico e o científico.
Por um lado afirma que a inspiração do poeta vem de um “sopro sagrado”, por outro defende que toda a criação humana é um processo mecânico e natural.

Cores

As investigações de Demócrito acerca das cores primárias, de onde todas as outras partem, teve fortes consequências para a Pintura
Este tema das Cores teria sido já estudado na Grécia Antiga, mas sempre no âmbito da óptica. Demócrito tem o mérito de trazer este tema para a Teoria da Arte.
Defendia que as cores primárias eram: Branco, Preto, Vermelho e Amarelo

Música

Para Demócrito a Música não é uma actividade primordial do ser humano, não nasce de uma necessidade mas de um luxo.
A música não é um produto da natureza, mas da invenção humana
Atribuí à produção artística uma dignidade humana.

Medida

A expressão “Justo-meio”, é muito usada com Demócrito
Demócrito tal como muitos outros gregos, dá valor à moderação em qualquer actividade humana. O mesmo para a arte e para a Beleza
“Se alguém ultrapassa a medida, as coisas mais agradáveis, tornam-se as mais desagradáveis.”






PLATÃO



Platão de Atenas (Atenas,428/27– Atenas, 347 a.C.)
Discípulo de Sócrates, fundador da Academia e mestre de Aristóteles.
Platão era um apelido que, provavelmente, fazia referência à sua característica física, tal como o porte atlético, ou ainda a sua ampla capacidade intelectual de tratar de diferentes temas. Πλάτος (plátos) em grego significa amplitude, dimensão, largura. Sua filosofia é de grande importância e influência. Platão ocupou-se com vários temas, entre eles ética, política, metafísica e teoria do conhecimento.




Escola de Atenas Rafael

A Escola de Atenas (Scuola di Atenas no original) é uma das mais famosas pinturas de Rafael e representa a Academia de Platão. Foi pintada entre 1506 e 1510 na Stanza della Segnatura sob encomenda do Vaticano. É um fresco em que aparecem no centro Platão e Aristóteles. Platão segura o “Timeu” e aponta para o alto, sendo assim identificado com o mundo inteligível. Aristóteles segura a Ética e tem a mão na horizontal, representando o mundo sensível.


Platão não desenvolveu uma Estética propriamente dita, mas há traços básicos da sua filosofia que trazem consequências óbvias para a Estética:
Os objectos da natureza só existem por imitação ou por participação nas Ideias: o mundo é criado por modelos. O demiurgo é como o artista que cria a partir de modelos.

Em Platão o tema do Belo é recorrente. O Belo em si, é hierarquicamente superior a tudo e igualmente inatingível através dos sentidos.
O Belo em si, está ligado à ideia de Verdade e de Bem.



Sócrates
 
 


 



 Pitágoras
 

O Filósofo e matemático grego nasceu no ano de 580 a.C. na cidade de Samos, fundou uma escola mística e filosófica em Crotona (colónia grega na península itálica), cujos princípios foram determinantes para evolução geral da matemática e da filosofia ocidental. Os principais temas eram: harmonia matemática, doutrina dos números e dualismo cósmico essencial.

A Escola Pitagórica foi a primeira a dar à Estética o seu lugar.
Toda a sua filosofia é uma estética. Desenvolve a Abstracção, as Relações quantitativas, a glória do formalismo
O Número é a medida de todas as coisas
“Os números constituem tudo o que é”
As matemáticas e a música estão ligadas: -“mundo músico”

A ideia pitagórica de Proporção e Medida:
A harmonia resulta da proporção, medida e número, e da correcta relação matemática das partes Graças a Pitágoras a música tornou-se uma arte no sentido grego do termo.
Em vez de Beleza empregavam o termo Harmonia
Os pitagóricos viam a Harmonia, e a proporção como características objectivas das coisas

As suas teorias influenciaram a música e indirectamente a arquitectura e a escultura
A interpretação matemática da música foi a grande conquista da escola Pitagórica, mas também os canons das artes visuais com os seus cálculos aritméticos e construções geométricas, foram decisivas para o início de uma reflexão acerca da Estética

“A Harmonia é a Unidade de muitos elementos misturados, um acordo entre elementos em desacordo”
“Ordem e Proporção são belos e úteis, enquanto a desordem e a falta de proporção são feios e inúteis”
“Não há arte sem proporção, e a proporção reside no número. Toda a arte nasce do número. Assim há uma certa proporção na escultura e na pintura”