31 maio 2016

Kristeva- Abjecção e Sublime (Estética II)

lEm “Poder do Horror, um ensaio sobre a Abjecção”, Kristeva aproxima o abjecto do sublime sem os distinguir escrupolosamente.
lO abjeto é apresentado como uma manifestação do que há de mais primitivo na nossa psique, que  tem origem num recalcamento originário, anterior ao surgimento do eu:

“o abjeto não é o objeto, é uma espécie de primeiro não-Eu, uma negação violenta que instaura o Eu; trata-se, em suma, de uma fronteira” .
O abjeto é a manifestação de uma violenta cisão– assim como o sublime é um sobre-sentido que nos escapa.
sublime e abjeto  são dois conceitos que lidam com o inominável e com o sem-limites.
Enquanto o sublime remete para o exterior, para o infinito, o abjeto está relacionado ao corpo, com a interioridade, com a natureza mais primitiva.
Ambos são conceitos ambíguos que nos abalam e transtornam.
O cadáver, visto sem Deus e sem ciência é o cúmulo da abjecção. É a morte a infectar a vida.” (Kristeva, 1982, p. 4)
Esta experiência pode relacionar-se com um sentimento transgressor e paradoxal de prazer e dor que Kristeva relaciona com o conceito de Lacain Juissance, um tipo de prazer transgressor que se relaciona com o sofrimento
O Abjecto tal como o Sublime é paradoxal, relaciona-se com forças antagónicas:, elevação e rebaixamento, prazer e dor, Eros e Thanatos.
As imagens do horror captam um “interesse lascivo”, já que imagens de coisas repugnantes também podem seduzir e muitas pessoas sentem desejo de ver o horrível, ou o abjecto.
“Chamar tal desejo de mórbido”, diz Kristeva, “sugere uma aberração rara, mas a atracção por essas imagens não é rara e constitui uma
 “fonte permanente de tormento interior” 
Podemos questionar o que é que une o sublime e o abjecto com tanta força, mas ao mesmo tempo, exige que eles habitem em campos opostos da imaginação humana?
a relação Abjecção / Sublime é inexplicável;  há uma dificuldade em expressar por palavras por conceitos;
Mas nunca estamos realmente em perigo real.
Nós não passamos de espectadores e observadores seguros e passivos 

Schiller - Sublime (Estética II)

lFriedrich Schiller, O Sublime, 1801
l(Textos sobre o belo, o sublime e o trágico. INCM)
Parte de Kant, mas diverge dele. Vai associar o Sublime e a Tragédia. O Sublime pode ocorrer através dessa arte e não apenas através da natureza.
Que relação pode existir entre o sublime e a arte?
Essa relação não é inaugurada por Schiller, já no texto de Longino encontramos uma relação entre o sentimento de sublime e a arte escrita dos poetas e dramaturgos.
Schiller defende que a arte trágica é capaz de representar a aparência da realidade de maneira tão intensa que possibilita ao sujeito um sentimento do tipo sublime, que conjuga em si um misto de prazer e dor, ao mesmo tempo protege esse sujeito de um perigo real que poderia então abalar a sua integridade física.
Pode vivenciar o sentimento da sua pequenez face à força da natureza e à errância da existência e da vida,
Mas também pode sentir a sua superioridade de ser racional e livre capaz de fazer escolhas dignas, superiores e até anti-naturais
E tudo isto pode ser experimentado através da empatia com o heroi trágico, por intermédio da arte trágica,

O Sublime BURKE (Estética II)

Burke escreve em 1757, Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo.
A obra é incontornável numa fase de arranque da reflexão estética.
Teve um forte impacto no século XVIII;
Constitui uma influência decisiva para a estética kantiana.

É o primeiro a formular a diferença entre o belo e o sublime.
Apresenta duas sensações antagónicas que se unem como base para a experiência estética que culmina no sentimento de sublime: Prazer e Dor
“O prazer ligado a dor, é uma espécie de horror silencioso". (Burke)
Burke defende que  o Sublime é despertado quando a dor e o perigo ligados à preservação do individuo entram em acção no pensamento através do medo.
“Nenhuma paixão despoja tão completamente o espírito de toda a sua faculdade de agir e de raciocinar quanto o medo. Pois este, sendo um pressentimento de dor ou de morte, atua de maneira semelhante à dor real.” (BURKE, 1993. p. 65- 66).
“When danger or pain press too nearly, they are incapable of giving any delight, and are simply terrible; but at certain distances, and with certain modifications, they may be, and they are, delightful, as we every day experience.”
Burke, Of the Sublime
http://www.bartleby.com/24/2/107.html
“I am convinced we have a degree of delight, and that no small one, in the real misfortunes and pains of others.” (Burke)
“… tudo que seja de alguma maneira terrível ou relacionado a objetos terríveis ou atua de algum modo análogo ao terror constitui uma fonte do sublime, isto é, produz a mais forte emoção de que o espírito é capaz.” (BURKE, 1993, P.48)
“Assim ocorre nas grandes desgraças reais e infortúnios representados pela arte, a única diferença é o prazer que resulta dos efeitos da imitação dado que ela nunca é perfeita a ponto de impedir-nos de perceber que é simulada, e, sob aquele principio, dela auferimos um certo prazer. "   (BURKE, 1993, p. 54)
As ideias de dor são mais poderosas do que as ideias de prazer. Mas esta ideia de dor não pode ser eminente, pois assim seria apenas terrível; é a sua possibilidade: É a dor atenuada que é agradável “delighful.