11 dezembro 2010

11ª Lição - Hípias Maior (Platão)

PLATÃO- HÍPIAS MAIOR


- O Hípias Maior, tem o privilégio singular de ser o primeiro dos diálogos estéticos consagrados ao tema do ‘Belo’.

- Diálogo da juventude (primeira fase - socrática) de Platão

- Quais as suas fontes estéticas?
É um diálogo refutativo e anti-sofístico, que visa destruir os antigos argumentos e impor um sistema novo
Tenta de alguma maneira varrer as teorias mitológicas, nomeadamente a que se prende com Apolo, deus da poesia e da música e as teorias mitológicas acerca das musas




Diálogo com o sofista Hípias de Atenas.
Indagação sobre o Belo

1. Sócrates elogia (ironicamente) Hípias pela sua sabedoria, própria dos sofistas, que para além de dominarem a esfera pública e privada, ainda recebem grandes lucros.
Hípias gaba-se bastante dos seus dons oratórios
Sócrates questiona-o acerca da questão da educação, uma vez que os sofistas são os “mestres da virtude.

2. Hípias vê-se num impasse, obrigado a reconhecer que não consegue transmitir a arete (virtude) aos habitantes de Lacedemónios, que por se considerarem virtuosos por natureza não aceitam essa lição de um sofista estrangeiro
Hípias admite no entanto que eles são capazes de escutar os seus discursos com interesse, como o último discurso que lhes fez intitulado “As Belas ocupações”
É aqui que se introduz o tema do Belo

4. Sócrates pergunta-lhe de forma insistente: “O que é o Belo?”
Hípias desvaloriza, referindo-se à insignificância da pergunta
Hípias começa por cometer um erro, que é não distinguir entre o conceito e o exemplo de belo.
Revela incapacidade de abstracção lógica
“O belo é uma bela rapariga, uma bela lira, uma bela marmita…”

5. Hípias cai no Relativismo
Sócrates indaga-o acerca do Belo em si
Belo em si, aquilo que é comum a todas as coisas belas, a razão de ser da beleza das coisas
Sócrates procura o eidos, o carácter
“o belo em si não é nem este objecto nem aquele, mas qualquer coisa que lhe comunica o seu próprio carácter
A segunda tentativa de Hípias também é falhada: “o belo é o ouro”
Cai em contradição, pois Sócrates mostra-lhe exemplos em que esculturas noutros materiais podem também ser belas
Hípias conclui que uma coisa é mais bela quando é apropriada à sua função: uma colher de pau é mais bela para fazer um puré do que uma de ouro…
Hípias defende que a beleza é a Conveniência
Sócrates vai rapidamente refutar esta resposta: a conveniência é uma relação entre vários objectos, logo entre as partes de um todo. Se as partes são belas a beleza não vem da sua disposição, e se as partes não são belas a disposição só pode produzir a aparência do belo
Surge então a segunda tentativa de definição: o belo é o útil


6. Hípias vai, pois, representar no diálogo a opinião da maioria. Contudo, Hípias é ao mesmo tempo considerado o Saber Supremo, para si e para a sociedade do seu tempo, – com a maioria e o senso comum – o expoente máximo do pensamento racional, no domínio da lógica, da matemática, da ciência. Neste sentido, para Hípias (qualquer hípias) não existe Sabedoria (Arte ou Dialéctica) mais além dos seus próprios limites – não lhe é concebível (tal como nos dias de hoje), pois não é uma questão de vontade, é algo ausente da sua mentalidade e de que jamais terá consciência – jamais poderá alcançar o Belo (a Arte) e a Dialéctica.

7. O Belo é um prazer inteligível, dado pelo reconhecimento no espírito da ideia da realidade do objecto, do facto, por isso só apreensível pelo ver ou pelo ouvir (os dois sentidos que transportam o mundo exterior ao inteligível), ou pelos dois sentidos em conjunto.
Todavia, não apenas pela vista ou pelo ouvido, pela percepção do objecto, considerando que não é propriedade dos sentidos, pois apenas passa por eles para se manifestar no espírito, ao inteligível, pela noésis.
Como a Dialéctica, desenvolve-se a partir das mais intimas zonas do Ser (do sensível ao afectivo e emocional), enraizando-se nos seus desejos mais profundos, percorrendo o racional e ultrapassando-o, emergindo no espírito como uma clarividência.
Hípias está muito longe de compreender ou apreender isso, e Sócrates reconhece que só por vezes tais coisas lhe passam pela cabeça.

6. O Belo é a potência para se fazer alguma coisa: “um belo atleta”, “um belo navio”
Aptidão para atingir um fim
Sócrates vai testar esta afirmação, reflectindo acerca das consequências
E se o fim a atingir for mau?
Não é admissível que o que é belo não seja bom e vice-versa
Então Hípias corrige de “Útil” para “Proveitoso”

7. A discussão passa para o plano da ética
Na verdade continuamos no campo do concreto e não do abstracto (belo em si continua por definir)
“O belo é a causa do Bem”
Esta definição é também rejeitada por Sócrates
A beleza visual, das pessoas e das obras de arte, bem como a beleza auditiva, das vozes das musas, da lira, conduz a uma nova definição:
O Belo é o que é agradável à vista e ao ouvido



8. A qualidade “agradável” não serve para caracterizar a beleza, pois nesse caso todos os restantes prazeres, incluindo os mais feios, seriam belos, o que não faz sentido.
Hípias insiste no agradável unicamente à vista e ao ouvido e tentar ainda pegar no conceito “proveitoso” anteriormente rejeitado.
Defesa do prazer com metron, medida. O ouvido e a vista através das artes que representam, música, pintura, escultura e arquitectura usam a métrica e os canons que se fundamentam no número (elemento inteligível entre o sensualismo do prazer).
Mais uma vez cai na aporia de juntar no belo o ético e o estético e de continuar a falar de coisas belas e não do Belo em si.
Ambos concluem que “o Belo é difícil.”

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