Nietzsche procura a origem do fenómeno do Trágico.
Defende que a sua origem está ligada a 2
instintos primordiais que norteiam a arte grega: o apolíneo e o dionisíaco
Analisa a Tragédia do ponto de vista puramente
estético, rejeitando qualquer conotação moral, política ou religiosa
- Apolíneo- forma da individuação, equilíbrio, véu da aparência
- Dionisíaco- Identificação com o Uno Original, Informe, Vitalidade (poder da Vida)
Os dois princípios são opostos mas
complementam-se na perfeição no caso da Tragédia grega
O Objectivo central de A Origem da Tragédia é mostrar que os gregos eram afirmativos (apesar
de pessimistas) que os seus instintos não eram negados.
E como faziam isto? Através da arte, da música e
do mito, todos em sincronia, mas sobretudo, pela vivência de Apolo e Dionísio
que eram manifestações fisiológicas da própria natureza, pela qual o grego se
regenerava diante do horror da existência.
A dramatização é a manifestação apolínea de
forças dionisíacas presentes na tragédia
Para N. a essência do Trágico vem da música,
arte que tem a força de reproduzir o que há de primordial e eterno
- Diónisos- Deus antigo da loucura, da embriaguês, do êxtase, da metamorfose
- Apolo- Deus da Arte, da música, da aparência
É no Coro Trágico que N. vê a presença do culto
a diónisos, também pela sua ligação à música
nN. afirma que foi ele pp quem descobriu o Trágico, mesmo os gregos o desconheciam, e por isso deixaram a
Tragédia morrer…. (Ecce Homo)
Defende 3 Mortes da Tragédia:
n1ª- Morte Euripediana (Dialética Socrática)
n2ª- com o Cristianismo
n3ª- Dialética moderna de Hegel e a opera de
Wagner
Ao lado de Sófocles e Ésquilo, Eurípedes é considerado um dos grandes tragediógrafos gregos, o último.
De acordo com estudiosos do período, estima-se que escreveu cerca de 95 peças trágicas. Porém, somente 18 chegaram até à nossa época.
Eurípedes abordou, nas suas tragédias, questões
psicológicas humanas, o que se chamou a tragédia dos vencidos, muitas vezes do
ponto de vista feminino. A partir de Eurípedes a tragédia perdeu a sua
vitalidade e tornou-se anti-dionisíaca.
N. afirma que a tragédia morreu por suícidio e
que a sua morte deixou um enorme vazio.
Eurípedes vulgarizou o género dramático e
tornou-o “acessível” ao grande público:
“com ele o homem comum deixou o banco dos
espectadores e subiu ao palco”
Eurípedes usou estratégias como: pensamentos
frios e sentimentos ardentes e abandonou o apolíneo e o dionisíaco.
Eurípedes, para N., não era um artista mas sim
um pensador. Não entendia a tragédia dos seus
antecessores, e quis “moraliza-la” e torná-la compreensível. Assim esmagou-a com o peso da razão…. Para Eurípedes o “entender” estava na raiz de
toda a fruição estética. Faz depender a obra de arte da compreensão
racional - Encontra em Sócrates um poderoso
aliado
A antiga oposição frutífera Apolo/ Diónisos
vai-se transformar na estéril oposição Sócrates / Diónisos
Sócrates: modelo de homem teórico que vai
preponderar por mais de 24 séculos
Para Sócrates a essência da Beleza é o Belo em
si, a sua filosofia é optimista, na medida em que defende a possibilidade Crítica à noção aristotélica de Catarse
Ainda que Aristóteles elogie a tragédia, teria ele razão quanto aos motivos desse elogio?
Isto é, em relação à acção ou ao efeito da arte (catarse) sobre o público?
de atingir a essência das coisas.
A filosofia de Sócrates com a sua ideia de
Verdade, de Bem, de perfeição das Ideias, vai dominar a metafísica ocidental e
será o elemento constituinte do niilismo
Niilismo- Depreciação desta vida com base em ficções como “o outro
mundo”, “mundo das ideias” “mundo da bem-aventurança”
Sócrates é o génio da decadência, o tipo de
homem teórico, a quem se contrapõe o tipo de homem trágico
Em Sócrates dá-se a seguinte contradição:
Quando a inteligência racional vacila, Sócrates
vai buscar apoio a uma voz mitológica, o daimon….
De tempos a tempos Sócrates escutava o daimon como um remorso na sua alma: “exercita-te na música” (Apologia
de Sócrates)
O optimismo socrático invadiu a obra teatral de
Eurípedes e expulsou dela o elemento dionisíaco-musical.
“só o sábio é virtuoso”
“Tudo, para ser belo, deve ser racional”
Eurípedes introduz o “Prólogo” em que uma
personagem aparece a solo e faz uma explicação do que se passou antes e um
resumo do que os espectadores irão ver.
Isto para Nietzsche é escandoloso, pois acaba com o suspanse e com qualquer efeito trágico
Para Sócrates a tragédia não traduz a verdade,
por isso constitui um perigo e uma má influência para os mais fracos de
espírito.
Platão para ser discípulo de Sócrates teve de
negar a poesia, e tentando afastar-se dela e dedicar-se com elevação racional à
filosofia, fez apenas um desvio para a ela regressar inconscientemente através
do seu género literário riquíssimo: o Diálogo platónico
- Crítica à noção aristotélica de Catarse
Ainda que Aristóteles elogie a tragédia, teria
ele razão quanto aos motivos desse elogio?
Isto é, em relação à acção ou ao efeito da arte
(catarse) sobre o público?
O desacordo de Nietzsche em relação a
Aristóteles sustenta-se sobre o facto de que a catarse não seria eficaz e
reforçaria o que ela se propõe a abolir.
Aristóteles teria errado ao pensar que os
espectadores se livrariam de seus medos e compaixões, na medida em que esses
afectos logo retornariam.
Nietzsche não considera que a experiência
catártica seja de fato vivida pelos espectadores do verdadeiro drama trágico
Nem acredita que a catarse constitua a essência
deste género teatral.
A experiência da catarse não é vivida pelos
espectadores porque ela não é propiciada pela tragédia.
A experiência suscitada pelo verdadeiro drama
trágico é inteiramente outra
O grego não fazia uso das tragédias para se
divertir de uma vida sombria e entediante, para encontrar ali um entusiasmo que
ele não conheceria em outro lugar, ou para purgar ali uma tendência medrosa ou
compassiva.
Muito pelo contrário, ele procurava tragédias
porque elas davam um grande prazer estético – no sentido de aisthèsis, de
sensorialidade, de afectividade
O público grego procurava na tragédia, segundo
Nietzsche, uma experiência / vivencia
estética; a experiência de sair de si mesmo, não para
experimentar uma catarse e permanecer o mesmo, mas para se ver “transformado e
transfigurado” por essa experiência. “Nesse estado onde se está ‘fora de si’, nesse estado de
êxtase.
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