09 novembro 2010

7ª Lição- "O Banquete" de Platão

https://www.youtube.com/watch?v=Lyi-1xDIcTU&t=9s




"O BANQUETE" - Platão





O Banquete é escrito no formato de uma peça teatral, em que se apresentam no seu cenário personagens importantes como Fedro, Pausaneas, Erixímaco, Aristófanes, Agatón (anfitrião, tragediógrafo, que oferece o Banquete), Sócrates e Alcibíades.
Simpósio significa banquete, onde se janta e bebe e onde habitualmente eram escolhidos temas de interesse para debater como forma de ocupar o tempo. Costumava também haver divertimentos como música e dança. Ambiente de boa disposição e liberdade.

O Banquete é a obra mais dramática, mais próxima do género teatral
Fica definido que neste banquete não haverá excessos com a bebida, uma vez que os convivas se encontram quase todos de ressaca (177d)
Mandam a tocadora de flauta embora e resolvem dedicar-se ao tema do Deus do Amor. Cada um deles fará um elogio ao amor.

FEDRO
Afirma que o Amor é um grande Deus, tanto para os humanos como para os Deuses, é dos deuses mais antigos, cuja origem é duvidosa…
Parece que não teve pais. Segundo Hesíodo o amor nasceu do caos da Terra
Sem amor nada de Belo se pode realizar
É o mais antigo dos Deuses, e o que tem o poder de levar os humanos a atingir acções belas, com mérito, e a felicidade, tanto na vida como na morte.
O amor é o estímulo para conduzir os homens à virtude
PAUSÂNIAS
Defende que há dois tipos de amor, o celeste – nobre e o popular – vil
Discurso acerca da pederastia, que ele considera o amor nobre, com fins educativos, discurso esse, que é interrompido por um ataque de soluços que o faz concluir o discurso

ERIXIMACO
Visão científica do Amor, explicação pré-socrática
O amor é o princípio que se estende a todo o universo
O amor é a concórdia, a harmonia, entre todos os elementos do universo





Diotima de Józef Simmler,1855



ARISTÓFANES - 189d

Numa mini-comédia explica poetica e mitologicamente a origem do amor.
Fala da origem do Amor, como estando na origem dos humanos.
Antigamente havia 3 géneros: macho, fêmea e um terceiro que partilhava as características destes – o andrógino (género então desaparecido)
O género masculino tem origem num raio de sol, o feminino na terra e na lua.
Os seres originais eram poderosos, possuíam tudo a dobrar: 2 pares de pernas, de braços, etc…
Eram seres ambiciosos que começavam a rivalizar com os deuses.


Os Deuses sentiram-se ameaçados e decidiram acabar com a arrogância dos humanos
Zeus decidiu dividi-los ao meio, um por um. Desse corte ficou a marca do umbigo.
As metades naturalmente começaram a procurar as outras metades, abraçando-se com saudades. Assim permaneciam tentando voltar a fundir-se e recusavam-se a fazer fosse o que fosse. Iam definhando e morrendo, metade a metade.
Então Zeus, vendo que a espécie humana corria riscos de desaparecer pensa noutra solução: muda-lhes os órgãos genitais para a frente, e assim como resultado do união entre homem e mulher resultaria a procriação e a perpetuação da espécie.


Quando uma metade encontra essa mesma metade que lhe pertencera, surge uma estranha sensação de amizade, parentesco, amor.
O amor é a aspiração à união, desejo de totalidade
Na nossa natureza primitiva éramos um todo, reduzidos a metades por Zeus.
Este mito pretende explicar de alguma maneira, a sensação de solidão e o desejo de completude que caracteriza o ser humano, como se lhe faltasse sempre uma parte…ou podemos ver aqui a imagem platónica de anseio de um mundo das ideias que a alma já conheceu antes de nascer e pelo qual suspira.
Há também indirectamente um elogio ao amor entre homem e mulher.






AGÁTON- 195b
Discurso elogioso e poético mas evasivo e pobre em contéudo.
O amor é de todos os deuses o mais bem aventurado. Excede todos os outros em beleza e virtude. É o mais jovem dos deuses, por isso o amor é próprio da juventude.
O amor é jovem, belo e justo






SÓCRATES- 199d
A natureza do amor implica que este seja de alguma coisa (intencionalidade)…
De onde provém esse amor? Do facto de possuir ou de não possuir aquilo que se ama?
Do facto de não possuir
Deseja-se aquilo que não se possui: uma pessoa alta não deseja ser alta, uma pessoa saudável não deseja saúde.

Ama-se aquilo que não se possui, aquilo de que se está privado
Então se o Amor é desejo de Beleza, naturalmente não é belo, senão não a desejava.
Então segue-se que o amor é desprovido de beleza e de bem
Sócrates vai reproduzir o discurso de Diotima, mulher muito culta e versada neste e noutros temas.



DIOTIMA- 201e
No Banquete, o amor é um desejo dirigido para o belo (Kalos) e necessariamente envolve a noção de uma necessidade ou falta (endeia)
Através do mito, que teria sido revelado por Diotima, Eros aparece como um grande Daimon, um dos intermediários entre o divino e o mortal, entre a sabedoria e a ignorância.
Eros é o filho do Engenho e da Pobreza

Tal como o amor é intermediário entre o belo e o feio, o imortal e o mortal, também a filosofia é um meio termo entre a ignorância e o saber
O amor existe em função do que é belo
Para quê desejar o Belo?
Para o possuir, para ser feliz
205c
O amor de que falam, é num sentido restrito
A palavra amor, tal como a palavra poesia tem um sentido lato.
Poesia é qualquer forma de criação
Todos os criadores são poetas, mas não chamamos poetas a todos os criadores.
Aqui falam do amor como forma de aspiração ao bem, à felicidade.


O amor é o desejo de possuir o bem para sempre
Qual o género de vida daqueles que perseguem esse objectivo?
Aquele género que gera o belo tanto através do corpo como da alma
Fecundidade do corpo e da alma
Fecundidade do corpo: união entre homem e mulher, geração, forma de imortalidade
O alvo do amor não é o belo mas sim a imortalidade, o acto de perpetuar


É graças ao artifício da procriação que o ser humano participa da imortalidade.
O desejo de imortalidade é a grande aspiração dos humanos, por ex. o desejo de se tornarem célebres, de alcançar uma fama que perdure para sempre
“Cada homem dá o máximo de si na esperança de que um mérito imortal e de um nome glorioso que lhe corresponda” 208d
Uns procuram a imortalidade através dos filhos, outros através dos seus feitos e do seu nome.
Fecundidade do corpo e da alma


Fecundidade da Alma
Há pessoas com uma alma mais fecunda do que o corpo, assegurando a imortalidade através das suas criações
Aqui se incluem não só os poetas, criadores de obras, como ainda no domínio da técnica, todos os artífices dotados de espírito inventivo
Um ser cuja alma participa do divino, possui o impulso de gerar…


Eros é definido como o desejo de que o bem seja nosso para sempre, e também, como a procura por uma natureza mortal, da imortalidade que ele realiza gerando.
Em seguida, continua o relato dos ensinamentos de Diotima, como uma exposição do verdadeiro amor. O concurso dos belos corpos gera belos discursos.
O amante afasta-se de um único corpo e torna-se um amante de todos os corpos belos, daí volta-se para as belas almas, as leis, observações e conhecimento (episteme), libertando-se sempre da ligação ao particular, até que subitamente lhe é revelada a visão da própria beleza, o Belo em si (211c)

Os graus, ou os “degraus” da iniciação à beleza são na realidade três, cada um deles dividido, por sua vez, em dois momentos.
Primeiro o amante afeiçoar-se-á a um corpo belo, então fará belos discursos; depois verá que a beleza de um corpo é irmã da beleza de todos os outros, assim, passará a amar todos os corpos belos.
O segundo degrau permite passar do amor pelos corpos ao amor pelas palavras.

O verdadeiro discípulo de Eros afeiçoar-se-á, num primeiro momento, a uma alma em particular, para depois descobrir a beleza moral, a dos actos, que torna belas todas as actividades e comportamentos humanos.
Já a terceira etapa, o iniciado passará dos actos às ciências. Aqui, também, num primeiro momento será amor das particularidades das ciências para, em seguida, expandir-se num amor pela ciência ou saber em geral, e enfim alcançar a ciência única, a do Belo em si.

Lá subitamente desvenda-se a beleza eterna e única, o Belo em si, e por si, contempla-se a verdade nela mesma, a beleza divina nela mesma, na unidade da sua forma.
A iniciação foi lenta e gradual, contudo, a revelação é súbita e instantânea. Livre da multiplicidade das aparências e das opiniões, a sua existência reside inteiramente na sua essência.

O amor deixa de ser tensão e tendência em direcção àquilo de que ainda estava desprovido.
Este é, não só um momento de êxtase, como também místico, “êxtase” porque o discípulo sai para fora de si na contemplação do belo transcendente; e “místico” porque é uma coisa tão oculta, que só se revela ao fim de uma longa iniciação pela qual poucos passam.


Socrates vai ao encontro de Alcibíades na casa de Aspasia, (1861).





ALCÍBIADES
Ouvem-se pancadas fortes à porta e logo a voz de Alcibíades, já embriagado, se escuta, a saudar os presentes
Discípulo de Sócrates, dono de rara beleza, Alcibíades obteve grandes glórias militares em Atenas, mas viria a morrer assassinado pelo ódio e pela paixão política dos inimigos
Alcibíades tomou a palavra, não só para elogiar a pureza e a grandeza moral de Sócrates, mas também algumas peculiaridades da sua personalidade que intrigavam muitas pessoas
O discurso de Alcibíades é um retrato admirável de Sócrates

Sócrates não é belo nem feio, mas sedutor e encantador; é pobre e tem os pés descalços, mas está sempre em busca de enriquecimento interior
É ingénuo, mas engenhoso, caçador de verdades. Por sua estranheza e pelo mistério que emana de sua personalidade feita de contrastes é, ele mesmo, uma figura daimónica, mediador e traço de união entre os deuses e os homens.
Sócrates como a imagem total do Amor. O elogio a Sócrates representa o coroamento do Banquete

Terminado o Banquete, em que muito se consumiu de comida e de bebida, conta Platão que alguns se retiraram e outros, vencidos pelo sono e pelos excessos, jaziam dormindo profundamente.
Sócrates, continuava a conversar com dois ou três, assim ficou até raiar o dia. Os ouvintes também terminaram por adormecer e Sócrates, levantou-se então, e retirou-se, acompanhado por Aristodemo, que acabara de acordar.mito de Aristófanes (o Banquete)

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