21 novembro 2010

8ª Lição- 'Íon' de Platão

Íon — pertence ao primeiro grupo dos diálogos de Platão e relata uma conversa entre Sócrates e Íon de Éfeso, um rapsodo muito conhecido em Atenas. Não sabemos a data exacta da composição, mas a partir de diversas informações contidas no texto é possível situá-la entre 394 e 391 a. C.
Diálogo entre Sócrates e Ion, célebre rapsodo (artista popular, declamador de poesia)



Ion é orgulha-se de ser o melhor a declamar Homero
Sócrates indaga o motivo de ser Homero e não outro qualquer
Ion acha que há “qualquer coisa” em Homero que é especial, diferente dos outros
Íon, recém-chegado a Atenas, conta a Sócrates que acabara de vencer o concurso do festival de Asclépio em Epidauro e gaba-se de sua capacidade de declamar e comentar os poemas homéricos. Depois de cumprimentar o rapsodo, Sócrates começa a interrogá-lo (530a-531a).
Sócrates leva Íon a reconhecer que não é pela técnica que se possa aprender que ele é melhor a declamar Homero, mas por uma espécie de paixão que o move e o leva a preferir Homero a todos os outros poetas:

534c- "Sócrates.: Vejo, Íon, que não há uma técnica, mas uma potência divina que te movimenta, como na pedra que Eurípides nomeou Magnética, e que muitos a chamam de Hércules. Essa pedra não só atrai os anéis mesmo de ferro, como os infunde poder de modo a novamente fazê-los ter o mesmo poder que a pedra, isto é, atrair outros anéis,(…) . Assim, a Musa mesma faz os inspirados; e através desses inspirados, outros se entusiasmando, formam uma cadeia. Com efeito, todos os poetas épicos, os bons, não por técnica, mas sendo inspirados e possuídos, dizem todos esses belos poemas. Os poetas líricos, os bons, igualmente; como os coribantes não estando conscientes dançam, assim também os poetas líricos não estando conscientes fazem esses belos versos líricos; e quando entram em harmonia e no ritmo, comportam-se como bacantes e ficam possuídos; tal como as bacantes retiram mel e leite dos rios ficam possuídas e não estando conscientes; e também a alma dos poetas líricos elabora isso, que eles mesmos afirmam. Dizem-nos os poetas, é evidente, que das fontes que vertem mel de certos jardins e bosques das Musas que eles nos trazem seus versos líricos. Como as abelhas, eles assim voam; e dizem verdade.
Leve é coisa do poeta, alada e sagrada; e inicialmente não consegue compor, antes de se tornar inspirado, de ficar fora de si e o pensamento não habita mais nele; até que tenha essa aquisição, todo homem é incapaz de compor e de proferir oráculos. Então, já que não é por técnica que eles fazem e dizem muitas e belas coisas sobre os acontecimentos, como tu sobre Homero, mas por parte divina; cada qual é capaz de compor de maneira bela só naquele género para o qual a Musa o precipitou: este para os ditirambos, o outro para os encómios, aquele para os épicos, o outro para os jambos, e cada um deles é medíocre nos outros géneros. Pois não dizem essas coisas por técnica, mas pelo poder divino portanto, diz: porque se eles soubessem falar bem a respeito de uma delas por técnica, também saberiam falar bem de todas as outras: por isso, o Deus extraindo o pensamento desses usa-os como auxiliares, profetas e adivinhos divinos, a fim de que nós, os ouvintes, saibamos que não são estes os que falam as mesmas coisas assim muito dignas, pois o seu pensamento não está presente, mas é o próprio Deus o comunicante, através deles se comunica connosco. "

Sócrates pensa que o motivo que leva Ion a ser o melhor a declamar Homero, é:
“- Não é um assunto que tenhas aprendido, a falar acerca de Homero, mas antes é um poder divino que te move, como uma pedra magnética move anéis de ferro (…) da mesma maneira com que a musa faz com que algumas pessoas fiquem inspiradas” 534b

“Nenhum dos poetas, se são bons, são donos do seu saber, eles são inspirados, possuídos, e é assim que eles produzem os seus belos poemas.
É uma possessão, eles não estão em si próprios. Um poeta não é capaz de produzir poesia enquanto não estiver inspirado e saia da sua mente e o seu intelecto o abandone. Enquanto a musa tiver na posse do intelecto humano, ele terá sempre o poder de fazer poesia e cantar profecias. Por isso não é através da aprendizagem que eles fazem poemas ou dizem coisas encantadoras, mas porque é uma dádiva dos deuses.” 534b-c
535e
"Sócrates- Deus nos apontou, a fim de que não duvidássemos, que não são humanos estes belos poemas, nem dos homens, mas divinos e dos deuses; e que os poetas nada mais são que intérpretes dos deuses, e cada um é possuído pelo deus que o possuir. O Deus mostrando essas coisas de propósito, através do mais medíocre poeta cantou o mais belo verso lírico: ou não te pareço dizer a verdade, Íon?
Íon: Sim, por Zeus, ao menos para mim! Tocas de algum modo minha alma com esses discursos, Sócrates, parece-me que é por parte divina que os bons poetas interpretam para nós as coisas que estão juntas dos deuses. "

Os Rapsodos passam a ser vistos por Sócrates como os intérpretes dos intérpretes. O deus possuí o poeta e o poeta possuí o rapsodo e este por sua vez possuí a audiência.

534d “Não é a habilidade nem o conhecimento que lhes permite dizer esses versos, mas um poder divino.É por isso que o deus lhe rouba o intelecto enquanto os usa como escravos, tal como faz com os profetas e os adivinhadores. Não é o seu intelecto que nos fala mas o próprio deus que ganha voz através deles”

Sócrates afirma que Íon está possuído pelo espírito de Homero e por isso é que o declama e interpreta tão bem, levando em cadeia o público a ficar extremamente comovido e impressionado como se fizessem parte da cadeia da tal pedra magnética.

536 a-b
Sócrates.: Sabes então que o próprio espectador é o último dos anéis de que eu falava, a receber o poder que, sob o efeito da pedra de Hércules, passa de um para o outro? O do meio és tu, rapsodo e o actor, e o primeiro é o próprio poeta. O Deus, através de todos eles, dirige a alma dos homens para onde quiser, fazendo passar o poder de uns para os outros.

Sócrates vai argumentando com Ion, no sentido de o convencer que ele é bom a declamar Homero, não porque tenha grandes conhecimentos, mas porque está possuído.
Sócrates faz ver a Ion, que o poeta é capaz de falar sobre todo o tipo de temas, mesmo sem saber nada sobre eles

Se o poeta não possuí a técnica sobre tudo o que declama, então é ignorante.
Por exemplo pode declamar versos em que Homero fala de medicina e nada saber sobre medicina. Ou sobre a tarefa de um general e o rapsodo não sabe nada sobre isso.
Como é técnico Íon é um ignorante, mas como poeta é um ser divino.

Sócrates afirma que cada arte tem a sua natureza própria: a arte do médico, a arte do cocheiro, etc.
E questiona-o acerca da arte do rapsodo?
Será que ele domina todas as outras naturezas quando por exemplo Homero fala da arte do médico em alguma passagem da Ilíada? Pag. 81
Íon acha q sabe e domina tudo!
Sócrates mostra-lhe a sua incoerência:
Ele como Rapsodo não pode dominar as outras artes pois a sua arte é diferente dessas.
Depois de ìon cair em contradição, e admite que tem uma sólida cultura geral
Se o poeta não possuí a técnica sobre tudo o que declama, então é ignorante.
Por exemplo pode declamar versos em que Homero fala de medicina e nada saber sobre medicina. Ou sobre a tarefa de um general e o rapsodo não sabe nada sobre isso.


Ion afirma que qualquer poeta tem obrigação de possuir uma sólida cultura geral.
Sócrates pergunta a Ion se qualquer pessoa com uma sólida cultura geral pode ser um bom poeta?
Sócrates conclui que o poeta ou é um ignorante ou é um ser divino!

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