10 maio 2011

2ºS. 10ª Lição- Kant: Juízo de Gosto; Teoria do Génio

A Crítica da Faculdade de Julgar, divide-se me duas partes:
crítica do belo e do sublime
teleologia ou ciência da finalidade


A Estética de Kant analisa a percepção do belo na prática da vida quotidiana. Essa análise dá-se essencialmente na sua Crítica da Faculdade do Juízo (1790).

Para Kant, a estética é um estado de vida de direito próprio, uma capacidade de fruição intimamente relacionada a outras capacidades cognitivas do ser humano, sem depender, necessariamente, da aquisição de conhecimento.
A contemplação estética não requer intelecção tal como a contemplação teórica, com fins de conceituação e/ou classificação do objecto, importando, apenas, nessa contemplação, a percepção do objecto. Isso não quer dizer, porém, que se trata de uma percepção meramente subjectiva. Tal percepção dos fenómenos dá-se de uma maneira especial, podendo ser confirmada, sim, intersubjectivamente.
Convém lembrar que a observação de uma manifestação estética só pode ser apreendida por aqueles que tiverem, a priori, recursos sensoriais e cognitivos, além de estarem dispostos a praticar o exercício da atenção a ser dirigida à presença sensitiva de um determinado objecto


Segundo Kant o juízo de gosto depende do sentimento de agrado ou desagrado e portanto não é um juízo cognitivo. A sua base de determinação só pode ser subjectiva.
Kant distingue o prazer puro desinteressado que está presente no juízo de gosto com a espécie de prazer que sentimos no que é agradável para nós (o qual está associado com a gratificação pessoal ou diversão) e a espécie de prazer que sentimos no que é bom.
Estes dois tipos de prazer estão relacionados com qualquer espécie de interesse (no primeiro caso a gratificação sensorial que partilhamos com os animais; no segundo caso o nosso interesse racional no que tem valor objectivo). Apenas o nosso interesse pela beleza é um prazer desinteressado e livre. 


Daqui Kant parte para a definição de belo como 'um objecto de prazer independente de qualquer interesse'.
"Esta noção de puro e livre prazer, cuja base de determinação é inteiramente subjectiva de que qualquer coisa é bela implica representa-se um objecto de prazer universal."
(Cottingham, History of Western Philosophy)
O gosto é a faculdade de julgar esteticamente, permitindo ao humano aferir se uma coisa ou uma obra é bela.
Trata-se de uma faculdade que pressupõe a harmonia ou unidade subjectivas entre a imaginação e o entendimento, faculdades cognoscitivas (que tem habilidade de descobrir) que não aprisionam o objecto conceptualmente, mas que, pelo contrário, são incitadas a apreciá-lo pela sua forma e nunca pela sua matéria.
Como vemos, na base do juízo de gosto kantiano, não existe uma finalidade subjectiva ligada ao interesse, nem uma finalidade objectiva ligada ao bem, mas uma finalidade sem fim, na medida em que privilegia a forma do objecto, na sua representação formal, condição de possibilidade da relação harmoniosa das faculdades representativas e do sentimento de prazer.
Ora, este estado anímico, o livre jogo das faculdades do conhecimento, pode ser partilhado, comunicado, ultrapassando o nível privado e pessoal do agrado provado pelos sentidos.
Esta comunicabilidade estética apoia-se na universalidade das condições subjectivas do juízo estético, porque sem elas a humanidade jamais poderia avaliar qualquer forma de um objecto sensível como belo ou feio.
Não existe “gosto” sem “Razão”. A própria “subjectividade” é uma forma interpretativa da realidade objectiva racionalmente entendida; quando dizemos que “isso é subjectivo”, estamos a considerar implicitamente uma escala de valores na análise em relação a uma realidade objectiva e passível de ser racionalizada.






Crítica Faculdade de Julgar, cap- 1-9
Juizo de gosto:
“As rosas são belas!”
Não se trata de um juízo lógico, nem empírico.
O predicado deste juízo nunca pode ser um conhecimento, e a causa é sempre um sentimento
O juízo de gosto resulta num estado de alma que é a harmonia das nossas faculdades
É o sentimento de livre jogo das faculdades da Imaginação e do Entendimento. A imaginação apreende o objecto e forma uma imagem, o entendimento não consegue fornecer um conceito para tal, mas concorda…
Esse sentimento é ele próprio um conhecimento e pode ser partilhado universalmente.
Disposição do juízo de gosto: jogo livre
“O Belo é o que apraz universalmente sem conceito”

Jogo Livre: Acordo, harmonia, sem nenhuma intenção cognitiva
O prazer é consequência desse jogo: é acordo entre a coisa vista, consigo próprio e com o tomar consciência disso.
Há um acordo acompanhado de prazer.
É um enigma.
É a conformidade a fins, mas sem fim.
É desinteressado.
O juízo estético é dizer sim.
O juízo estético causa prazer desinteressado.
O prazer pode ser universalmente partilhado, é uma subjectividade objectiva.
É um prazer intelectual, apesar de afectivo.
Quando achamos qualquer coisa bela achamos de forma universal, apesar de ser puramente subjectivo.
O sentimento estético aproxima-se do sentimento ético uma vez que ambos são desinteressados.
É um prazer sensível e intelectual não precisa da posse material, não tem fins utilitaristas ou de posse

ANTINOMIA do GOSTO:
Posição do senso Comum:
“Gostos não se discutem” puramente subjectivo
Posição Crítica:
Pode discutir-se o Gosto!
Para Kant o Juizo de Gosto embora não produza nenhum conceito, baseia-se num princípio geral de finalidade subjectiva da natureza humana, esse princípio é indeterminável mas está aí como um substracto supra sensível dos fenómenos.
(Podemos pensar que nas Ideias platónicas como fundamento de uma reminiscência colectiva)
É ele que permite numa certa época definir o que é o belo e obter como que espontaneamente a adesão colectiva


Teoria do GÉNIO C.F.J. Cap. 44- 50
Na filosofia de Kant, génio é a capacidade inata para criar belas artes e compreender conceitos que normalmente teriam de ser aprendidos e estudados.
A mente do génio é como um microcosmos que reproduz o macrocosmos, por analogia.
O carácter essencial do "génio" para Kant era a originalidade. Este génio é um talento para produzir ideias que podem ser descritas como não-imitativas.
A discussão de Kant sobre as características do génio está grandemente contida na Crítica da Faculdade do Juízo e foi bem recebida pelos românticos do início do século XIX.
“Génio é o talento (dom natural) que dá a regra à arte. Já que o próprio talento enquanto faculdade produtiva inata do artista pertence à natureza, também se poderia expressar assim: Génio é a inata disposição do ânimo, pela qual a natureza dá regra à arte.” CFJ, cap. 46, pág. 211





Os artistas são os favoritos da natureza. Para Kant, o génio é o que tem um talento natural, é uma faculdade produtiva e inata. Esta capacidade é natural e não adquirida empiricamente.
O génio é o talento (dom natural) que dá a regra à arte, apesar de desconhecer a regra:
Génio é a inata disposição do ânimo (ingenium), pela qual a natureza dá a regra à arte.
O talento do génio pertence à natureza, e a natureza age através deste.




O génio é refém da natureza.
A natureza coloca o génio ao seu serviço.
O seu talento pertence à natureza.
Os propósitos do génio estão fora do seu alcance, por isso o génio não pode explicar nem descrever com conceitos a sua produção artística.
O génio cria uma segunda natureza, aquilo que a natureza não consegue criar, e põe-o ao seu serviço.
A ideia estética é o elemento que o génio incute na matéria que não está previsto em nenhuma técnica ou conceito, é um elemento irredutível à habilidade técnica do artista, cuja fonte é o seu pensamento.
É originalidade, dom inato, expressão livre das suas faculdades
É a faculdade da imaginação que revela o génio.

Apesar de a originalidade do talento constituir o aspecto mais essencial, não basta ser génio. Kant defende que o talento existe como uma espécie de saber em potência, que para ser actualizado, carece de estudo e trabalho:
“O génio pode somente fornecer uma matéria rica para produtos da arte bela; a elaboração da mesma e a forma requerem um talento moldado pela escola, para fazer dele uso que possa ser justificado perante a faculdade do juízo.”

O génio não se submete às regras estabelecidas, e muito menos as imita. Em Kant, o génio é aquele que tem um talento original, não se aprende a ser génio:

“Daqui se vê que o génio:1) é um talento para produzir aquilo para o qual não se pode fornecer nenhuma regra determinada; consequentemente que a originalidade tem que ser a sua primeira propriedade; 2) que, visto que também pode haver uma extravagância natural, os seus produtos têm que ser ao mesmo tempo modelos, isto é exemplares; por conseguinte eles próprios não surgiram por imitação e têm que servir a outros como padrão de medida ou regra de julgamento. 3) (…) o autor de um produto, que o deve ao seu génio, não sabe como para isso as ideias se encontram nele; 4) a natureza através do génio dá regra à bela arte”[1]
[1] Kant- Crítica da Faculdade do Juízo, Lisboa: Imprensa nacional Casa da Moeda, pág. 212


Expressa uma voz universal, mas trata-se de uma universalidade subjectiva
Esta universalidade não é mais que uma ideia, uma hipótese indemonstrável.

1 comentário:

Coloquem dúvidas com o devido respeito e coerência, Obrigada :)