Marcel Duchamp – A Fonte, 1917
n“Em 1913 eu tive a feliz ideia de fixar uma roda
de bicicleta a um banco de cozinha e ficar a vê-la rodar…Em N. Y., em
1915, comprei numa loja de ferragens uma pá para a neve na qual eu escrevi “em
antecipação ao braço partido”. Foi por essa altura que a palavra readymade me veio ao espírito para designar esta forma de
manifestação. Um ponto que eu desejo frisar é que a escolha destes readymades
nunca foi ditada por deleite estético. A escolha baseou-se numa reacção de
indiferença visual e, em simultâneo, com uma total ausência de bom ou mau
gosto…” Duchamp
apud VVAA Arte do séc. XX, vol. II, Taschen, 2005.
É evidente que Duchamp nunca se preocupou em
desenvolver algo belo, mas antes algo de subversivo.
nReadymade art: tirar um objecto produzido em massa do seu
contexto e dar-lhe o sentido de obra de arte sarcástica simbólica
nAntes de Marcel Duchamp a tornar
na obra de arte mais influente do século XX a Fonte era só mais um urinol.
nDe forma irónica, o artista criticou e abalou os
conceitos de arte da sua sociedade.
nA partir do momento em que Duchamp retirou
aquela simples coisa do quotidiano e a colocou numa exposição,
este deixou de ser aquele objecto funcional, passando a ter um
significado artístico (sem utilidade prática).
nMarcel Duchamp deixará um legado muito mais
relevante do que foi ele próprio enquanto artista.
nDuchamp procede de uma herança pós renascentista
que faz o elogio da supremacia da criação intelectual.
nEste artista radicaliza a frase de Leonardo “A
Pintura é uma coisa mental” ao apropriar um objecto do quotidiano e dispensar a
dimensão de ordem técnica, do trabalho manual ou transformação física.
nAo prescindir da natureza técnica e artesanal a
arte realizaria ao fim de mais de 5 séculos a sua derradeira aspiração:
nA obra de arte entendida como coisa mental ou
conceptual.
nQuando a obra de arte se desliga das dimensões
técnicas e de toda a tradição cultural ligada à arte, como pode o espectador
comprender, reconhecer o que é a arte?
nTerá sido Duchamp que desencadeou o fim da arte,
ou uma alteração profunda no mundo das artes já estaria a acontecer e Duchamp
deu-lhe visibilidade?
nSem o Cubismo e o futurismo não haveria
Duchamp….
nO READY-MADE é uma crítica à tradição artística,
à qual está vinculada. Este tipo de arte foi a forma que este artista encontrou
de se distinguir radicalmente da pintura do seu tempo.
nFoi a sua afirmação individualizada da morte da
pintura.
nAo abandonar a pintura e a tradição da
representação narrativa, ostenta o fim da arte.
nDuchamp protagoniza uma morte simbólica da
pintura, em parte como resultado da perda da sua importância pelo advento da
fotografia
nO ready made surge vinculado a uma tradição com
a qual não parece à partida estar ligada.
nSem o modernismo e a sua recusa dos modelos
clássicos e a sua exigência de novidade, não haveria ready made.
nNo ready made o acto criador é um acto de
negação.
nComo é que o fim da arte pode constituir
condição de existência da própria arte?
nColoca-se a questão da identidade da arte. Qual
é o modelo ontológico para a arte contemporânea?
nDuchamp dissocia a identidade da obra de arte da
sua produção técnica e assim o processo de mediação, a tela, transforma-se numa
mera realidade cultural
nA determinação decisiva é a mental, a
conceptual.
nA Fonte 1917, foi o ready made mais
paradigmático e foi o primeiro a obter a atenção do público.
nA fonte não é um “puro” ready made, não só
sofreu algumas modificações pela mão de Duchamp, como também é um objcto
escolhido com o propósito de chocar.
nUm urinol está revestido de uma carga semântica
que não é indiferente…a sua escolha não foi arbitrária
nO trabalho de Duchamp é também uma crítica e um
questionamento à tradição mimética da arte.
nDepois de se apropriar de um objecto utilitário
o ready made adquire uma inutilidade estética mantendo ainda assim as suas
características formais.
nDestituir de função e de utilidade um objecto é
neste caso, dar-lhe uma função estritamente estética.
Brillo Boxes, Andy Warhol, 1964
“What Warhol
taught was that there is no way of telling the difference [between art and
non-art] merely by looking.” Arthur Danto
nA diferença não é visivel ao olho, a diferença é
filosófica. Essa é a função da arte, hoje em dia, ocupar o lugar da filosofia
da arte: pôr em reflexão…”
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