21 setembro 2010

2ª Lição - Análise e reflexão crítica da obra de Marcel Duchamp


 Marcel Duchamp – A Fonte, 1917 





n“Em 1913 eu tive a feliz ideia de fixar uma roda de bicicleta a um banco de cozinha e ficar a vê-la rodar…Em N. Y., em 1915, comprei numa loja de ferragens uma pá para a neve na qual eu escrevi “em antecipação ao braço partido”. Foi por essa altura que a palavra readymade me veio ao espírito para designar esta forma de manifestação. Um ponto que eu desejo frisar é que a escolha destes readymades nunca foi ditada por deleite estético. A escolha baseou-se numa reacção de indiferença visual e, em simultâneo, com uma total ausência de bom ou mau gosto…” Duchamp apud VVAA Arte do séc. XX, vol. II,  Taschen, 2005.
É evidente que Duchamp nunca se preocupou em desenvolver algo belo, mas antes algo de subversivo.
nReadymade art: tirar um objecto produzido em massa do seu contexto e dar-lhe o sentido de obra de arte sarcástica simbólica
nAntes de Marcel Duchamp  a tornar  na obra de arte  mais influente do século XX a Fonte era só mais um urinol.
nDe forma irónica, o artista criticou e abalou os conceitos de arte da sua sociedade.

nA partir do momento em que Duchamp retirou aquela simples coisa do quotidiano e a colocou numa exposição, este deixou de ser aquele objecto funcional, passando a ter um significado artístico (sem utilidade prática).
nMarcel Duchamp deixará um legado muito mais relevante do que foi ele próprio enquanto artista.
nDuchamp procede de uma herança pós renascentista que faz o elogio da supremacia da criação intelectual.
nEste artista radicaliza a frase de Leonardo “A Pintura é uma coisa mental” ao apropriar um objecto do quotidiano e dispensar a dimensão de ordem técnica, do trabalho manual ou transformação física.
nAo prescindir da natureza técnica e artesanal a arte realizaria ao fim de mais de 5 séculos a sua derradeira aspiração:
nA obra de arte entendida como coisa mental ou conceptual.
nQuando a obra de arte se desliga das dimensões técnicas e de toda a tradição cultural ligada à arte, como pode o espectador comprender, reconhecer o que é a arte?
nTerá sido Duchamp que desencadeou o fim da arte, ou uma alteração profunda no mundo das artes já estaria a acontecer e Duchamp deu-lhe visibilidade?
nSem o Cubismo e o futurismo não haveria Duchamp….
nO READY-MADE é uma crítica à tradição artística, à qual está vinculada. Este tipo de arte foi a forma que este artista encontrou de se distinguir radicalmente da pintura do seu tempo.
nFoi a sua afirmação individualizada da morte da pintura.
nAo abandonar a pintura e a tradição da representação narrativa, ostenta o fim da arte.
nDuchamp protagoniza uma morte simbólica da pintura, em parte como resultado da perda da sua importância pelo advento da fotografia
nO ready made surge vinculado a uma tradição com a qual não parece à partida estar ligada.
nSem o modernismo e a sua recusa dos modelos clássicos e a sua exigência de novidade, não haveria ready made.
nNo ready made o acto criador é um acto de negação.
nComo é que o fim da arte pode constituir condição de existência da própria arte?
nColoca-se a questão da identidade da arte. Qual é o modelo ontológico para a arte contemporânea?
nDuchamp dissocia a identidade da obra de arte da sua produção técnica e assim o processo de mediação, a tela, transforma-se numa mera realidade cultural
nA determinação decisiva é a mental, a conceptual.
nA Fonte 1917, foi o ready made mais paradigmático e foi o primeiro a obter a atenção do público.
nA fonte não é um “puro” ready made, não só sofreu algumas modificações pela mão de Duchamp, como também é um objcto escolhido com o propósito de chocar.
nUm urinol está revestido de uma carga semântica que não é indiferente…a sua escolha não foi arbitrária
nO trabalho de Duchamp é também uma crítica e um questionamento à tradição mimética da arte.
nDepois de se apropriar de um objecto utilitário o ready made adquire uma inutilidade estética mantendo ainda assim as suas características formais.
nDestituir de função e de utilidade um objecto é neste caso, dar-lhe uma função estritamente estética.


Brillo Boxes, Andy Warhol, 1964
“What Warhol taught was that there is no way of telling the difference [between art and non-art] merely by looking.”        Arthur Danto 
nA diferença não é visivel ao olho, a diferença é filosófica. Essa é a função da arte, hoje em dia, ocupar o lugar da filosofia da arte: pôr em reflexão…”
                                  

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