21 setembro 2010

2ª Lição - A Antiguidade: Origem da reflexão acerca das artes visuais



O pensamento grego associava a arquitectura, a escultura e a pintura, e por sua vez estas estavam desligadas da Poesia, da música e da dança.
As primeiras produziam objectos visíveis, alvo de contemplação





As artes visuais na Grécia Antiga estavam marcadas por uma obediência a regras formais, mais do que à imaginação ou à inspiração. As regras e canons são absolutos, definidos não à priori, mas sobretudo como consequência da arquitectura.
Variantes estilísticas: a expressão "ordem dórica", refere-se aos componentes padronizados do templo dórico, típico da Grécia continental. A " ordem jónica" fundiu-se mais nas povoações gregas da Ásia Menor e do Egeu. A "ordem coríntia", de colunas encimadas por folhas de acanto estilizadas, desenvolveram-se bem mais tarde e só passaram a ser amplamente usadas em exteriores na época dos romanos.
Neste período arcaico não há qualquer texto que reflicta acerca da produção artística, apenas textos de carácter proto-científico e poético









Pintura em cerâmica

A pintura em vasos contava histórias de deuses e heróis da mitologia grega ou narrava eventos contemporâneos, como as guerras e as festas.
O mais antigo (c. 800 a. C) era chamado estilo geométrico porque as figuras e os ornamentos tinham formas basicamente geométricas.
O Período Arcaico tardio foi a época áurea da pintura em cerâmica. No estilo de figura negra, adoptado no final desse período, as figuras destacavam-se em negro contra fundo avermelhado.

 
A história recorda poucos nomes de pintores do período arcaico, como Cleantes de Corinto, Boularcos e Cimon, mas só podemos especular como teria sido a sua produção.
Alguns vestígios da pintura daquele período são encontrados em murais de Ístmia, em Métopes de Thermon e em algumas placas de madeira e cerâmica encontradas em Corinto e Atenas.
Apeles


 
“ Para a disputa, Zeuxis pintou um cacho de uvas. Quando mostrou o quadro, dois passarinhos imediatamente tentaram bicar as frutas. Zeuxis então pediu que Parrasio desembrulhasse seu quadro. Este então revelou que na verdade era a pintura que simulava a embalagem do quadro. Zeuxis imediatamente reconheceu a superioridade de Parrasio, pois se tinha enganado os olhos dos passarinhos, este tinha enganado os olhos de um artista.”
Plínio, o Velho, História Natural, Livro XXXV, IV
Conta-se que havia uma rivalidade semelhante entre Zeuxis e Apeles Um episódio semelhante ao anterior a caracteriza: Zeuxis tenta afastar uma cortina que tapava uma pintura de Apeles, e aí percebe que a cortina era a própria pintura, acando por reconhecer a superioridade de Apeles.
Destas lendas o que se pode destacar é essencialmente o carácter Mimético da Arte. Quanto mais fiel à realidade, maior qualidade era atribuída à obra de arte Chegando ao ridículo de enganar os passarinhos ou os olhos treinados de um pintor

BELEZA IDEAL

Outra fábula conta que Zeuxis para uma obra representando Helena de Tróia, implorou às cinco jovens mais belas da cidade de Crotona que o permitissem pintar o mais belo em cada uma delas. Desta forma parece ter inaugurado um método para representar a beleza ideal que mais tarde converter-se-ia num lugar comum da teoria estética, e que é a primeira fuga à mimesis absoluta




Arte - Techne

As artes plásticas na Grécia antiga tinham, basicamente, duas funções: decorar a arquitectura e pedir ou agradecer aos deuses.
Na tradição grega não existia diferença entre os conceitos de arte e técnica. Tanto em grego como em latim, a mesma palavra era utilizada para o trabalho em escultura, olaria, joalharia, pintura. O mesmo termo significava produção humana, técnica, habilidade, uma espécie de conhecimento técnico e também estava associado ao trabalho, à profissão.
no artesão era aquele que executava um trabalho, buscando a perfeição, o conhecimento. Segundo esse conceito, a "arte" era uma habilidade que poderia ser aprendida e aperfeiçoada.
Para os gregos antigos, música e poesia eram classificados noutra categoria de actividades, com uma definição mais próxima do que consideramos hoje em dia arte.
Tratava-se de actividades que não resultavam apenas de uma habilidade aprendida, mas de talento pessoal e da inspiração. Além disso, muitas esculturas tinham uma finalidade meramente religiosas. Não eram vistas como obras de arte.

A Poesia era para os gregos uma manifestação artística que não cabia na categoria da Tecné, isto é, não depende de canons nem de leis universais, mas sim da Inspiração.
Tecné era uma espécie de produtividade associada a tipos de destreza
Poesia era uma criação interna que depende da inspiração dada por poderes divinos.

Para os Gregos a Poesia estava acima de todas as artes. Havia Musas para todas os tipos de poesia: lírica, elegíaca, erótica, tragédia, comédia, relacionadas com estas surgiram também musas associadas à música e à dança, artes que sempre estiveram associadas à poesia, mas nunca houve Musas de Artes Visuais.

Os primeiros prenúncios da Estética fizeram-se sentir na Poesia, antes de qualquer texto teórico ou filosófico
Os primeiros poetas gregos colocaram questões, que no fundo foram mais tarde as grandes questões da Estética.
Ex. Qual a origem da Poesia?; Qual o valor da Poesia?; O discurso poético expressa a Verdade? etc…

Período Mitológico- Poético
Período Pré-Socrático, representado culturalmente sobretudo por poetas
Na poesia o adjectivo kalos, surge com frequência. Por ex.:
Hésiodo: “Quem é belo é querido, quem não é belo não é querido”
A “Beleza” inicialmente não tem um estatuto autónomo, surge associada a qualidades morais, como a justiça, ou a bondade
Hesíodo
Poeta- séc. VII a.C.
Hesíodo foi trabalhador rural e um célebre poeta da época.
Das suas obras destaca-se Teogonia (obra de carácter cosmológico) e Os Trabalhos e os Dias (Obra de preocupação Histórica). Em Hesíodo há um esforço de pensamento racional, sustentado pela causalidade que abre portas para as Cosmogonias posteriores.

Na obra de Hesíodo o adjectivo “Kalos” (Beleza), é atribuído à mulher, assim como a divindades mitológicas.
O adjectivo Belo, é também atribuído ao Mar e tudo que como ele se possa relacionar
Beleza: Afrodite, Nereidas, Oceânides, Tétis, Hespérides
O mar é um elemento familiar e central para os gregos.
O mar sintetiza a linha ondulada, considerada a mais bela
Em Hesíodo a Beleza é um atributo humano e do mar
Belo é aquilo que impressiona os olhos pela sua harmonia.
Tomem-se mitos como Afrodite, soberana suprema da beleza, nascida da espuma do mar; Helena de Tróia motivo de sangrenta guerra de dez anos; Psiquê, que cativa o próprio Eros;
A Beleza e o Mal inevitável
Não menos interessante é divagar sobre a dualidade da beleza, sua natureza formada do caos e da ordem, o bem e o mal residindo na harmonia das formas. Ao mesmo tempo, a delícia e o sofrimento dos homens, o inferno e paraíso, como nos ensina esta mitologia e os antigos poetas que a cantaram.
Zeus, ficou furioso ao ver que Prometeu havia devolvido o fogo à humanidade. Assim, ele decide fazer os homens pagarem pelo Fogo enviando o "Mal inevitável" à humanidade. Cria, então, uma jovem de beleza perfeita e irresistível, Pandora, a primeira mulher, que deixa todos fascinados com seu incurável encanto...

Mas Pandora abre inocentemente a tampa de uma caixa proibida e assim deixa escapar todas as misérias que afligem os homens, por exemplo: trabalho, tristezas, doenças, finitude.
Apenas a Esperança foi deixada dentro da caixa quando Pandora fecha rapidamente a tampa. A Terra, então, povoou-se de coisas más e sofrimentos trazidos por Pandora, que ao mesmo tempo preserva para a humanidade um único antídoto: a Esperança.
Zeus havia, por fim, mostrado aos homens que a vida seria eternamente um alternar de coisas boas e coisas más, o sofrimento seria parte inerente da existência. O Mal, na sociedade grega primitiva, é principalmente o trabalho, a dura sobrevivência, a dor. A dificuldade do sustento.
"Eu vou dar-lhes o Mal em troca do fogo, um mal para eles amarem e abraçarem" (Hesíodo, Trabalhos e Dias 43-58). E este mal vem em forma de beleza, algo que prende o olhar, o "lindo mal", atraente, da qual ninguém poderá escapar.
“A mulher (Pandora) é um mal belo” - Kalon Kakon



Hesíodo

Relação entre o Belo e o Bem, o Bem e o Útil
Para ser um Bem tem de ser Útil
Tudo o que é Útil pressupõe um meio para atingir um fim
ex.: o fogo é um bem, na medida em que é útil, uma vez que serve para cozinhar, aquecer, etc…
Tenta-se alcançar o Bem porque é útil, faz-se um esforço para alcançar o Bem
O Belo, não é Útil, no sentido em que não é um meio para atingir um fim. Não há um esforço para atingir o Belo, há contemplação passiva e imediata da sensibilidade emocional

“Observa a moderação: em tudo o justo-meio é o melhor” Os Trabalhos e os Dias, 694
Esta regra que era aplicada à conduta moral, acabou por ser adoptada como princípio estético do período grego. A Beleza está sempre associada a outros valores como a “medida” e a “conveniência”
Hesíodo afirmava que as suas musas diziam muitas mentiras em vez de verdades

A mulher é um instrumento poético de ruptura entre os deuses e os humanos
“Em vez do fogo, dar-lhes-ei um mal com que todos se vão regozijar em seu coração, ao rodear de amor o mal.” Teogonia- 570-612
A descrição da criação de Pandora é feita de forma artística e escultórica
Hefesto é o escultor que cria Pandora a partir da terra e da água
Imagem mais tarde usada no Génesis: Deus Artifex

Hesíodo e as MUSAS

A origem Divina da Poesia não está necessariamente relacionada com a Verdade, mas sim com o Verosímil:
No início da sua Teogonia, Hesíodo clama pelas suas musas inspiradoras, são elas que ensinam a Hesíodo o belo canto e que pelas suas palavras afirmam:



“Sabemos contar muchas mentiras que parecen verdades, y sabemos tambíen, cuando queremos decir esas verdades.”
1- Hesíodo- La Teogonia; Los Trabajos y los Dias; El Escudo; Madrid: Libreria Bergua, s.d., pág.
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