21 setembro 2010

3ª Lição - Arte/Techne em Homero, Safo e a Beleza na Tragédia

BELEZA

Havia contudo uma clara concepção de beleza e de arte que orientava a sua prática artística.
O conceito de BELEZA – KALOS tinha um significado vasto: significava tudo o que agrada, atraí e provoca admiração
A palavra belo era aplicada a uma multiplicidade de possibilidades variada: Instrumentos humanos, obras de arte, natureza, valores morais, etc…
“O mais justo é o mais belo” Oráculo de Delfos

ARTE - TECHNE

Os Gregos tinham também um significado muito lato para a palavras Arte (Techne)
Aqui estavam incluídas todas as produções humanas, da carpintaria à arquitectura.
O significado de Techne é o de produção humana por oposição à natureza
Tecne era considerada uma actividade mental e por isso um produto do conhecimento
No início não se fazia a distinção entre Artesanato e Belas Artes

Arte e Poesia

Para os gregos antigos, música e poesia eram classificados noutra categoria de actividades, com uma definição mais próxima do que consideramos hoje em dia arte.
Tratava-se de actividades que não resultavam apenas de uma habilidade aprendida, mas de talento pessoal e da inspiração. Além disso, muitas esculturas tinham uma finalidade meramente religiosas. Não eram vistas como obras de arte.

A Poesia era para os gregos uma manifestação artística que não cabia na categoria da Techné, isto é, não depende de canons nem de leis universais, mas sim da Inspiração.
Tecné era uma espécie de produtividade associada a tipos de destreza.
Poesia era uma criação interna que depende da inspiração dada por poderes divinos.

Para os Gregos a Poesia estava acima de todas as artes. Havia Musas para todas os tipos de poesia: lírica, elegíaca, erótica, tragédia, comédia, relacionadas com estas surgiram também musas associadas à música e à dança, artes que sempre estiveram associadas à poesia, mas nunca houve Musas de Artes Visuais.


AS 9 MUSAS

Calíope- Bela voz- Eloqüência-Tabuleta e buril
Kleio- A Proclamadora- História- Pergaminho parcialmente aberto
Erato- Amável- Poesia Lírica- Pequena Lira
Euterpe- A doadora de prazeres- MúsicaFlauta-
Melpômene, A poetisa- TragédiaUma máscara trágica, uma grinalda e uma clava
Polímnia- Polyhymnia- A de muitos hinos- Música Cerimonial (sacra)- Figura velada
Tália,Thaleia- A que faz brotar flores- Comédia- Máscara cómica e coroa de hera ou um bastão
Terpsícore, A rodopiante- DançaLira e plectro
Urânia, A celestial- Astronomia, Globo celestial e compasso

POESIA

Os primeiros prenúncios da Estética fizeram-se sentir na Poesia, antes de qualquer texto teórico ou filosófico
Os primeiros poetas gregos colocaram questões, que no fundo foram mais tarde as grandes questões da Estética.
Ex. Qual a origem da Poesia?; Qual o valor da Poesia?; O discurso poético expressa a Verdade? etc…

PERÍODO MITOLÓGICO- POÉTICO

Período Mitológico- Poético
Período Pré-Socrático, representado culturalmente sobretudo por poetas
Na poesia o adjectivo kalos, surge com frequência. Por ex.:
Hésiodo: “Quem é belo é querido, quem não é belo não é querido”
A “Beleza” inicialmente não tem um estatuto autónomo, surge associada a qualidades morais, como a justiça, ou a bondade


HOMERO

Foi o primeiro grande poeta grego do género épico cuja obra chegou até nós. Teria vivido e morrido no século VIII a.C.
Pelo século VIII a. C. aparecem as epopeias inspiradas na lenda da Guerra de Tróia: a Ilíada e a Odisseia. Segunda o tradição, o seu autor é Homero, poeta cego e nómada cuja actividade literária se baseia nas tradições orais, transmitidas de geração em geração, sobre as expedições gregas a Tróia (no Noroeste da Ásia Menor).

Já antes do início do pensamento filosófico, as riquíssimas obras de Homero (Ilíada e Odisseia) tendem a aproximar os deuses dos homens, num movimento de racionalização do divino. Os deuses homéricos, que viviam no Monte Olimpo, possuíam uma série de características antropomórficas.
A Poesia precede o pensamento racional e estruturado que caracteriza a Filosofia ou a Estética.
Neste período o pensamento dominante é o mitológico e a Poesia é a sua mais elevada expressão
A poesia expõe pela primeira vez na Grécia Antiga o pensamento estético


Em Homero a fonte da Beleza é a natureza (Belo Natural)
Depois da Natureza, refere-se a mulheres e também aos homens
Em Homero há uma ligação entre o Belo e o Útil: Talvez tudo o seja belo seja útil, mas nem tudo o que é útil é belo
ex.: As terras belas não são belas por causa das sementeiras mas por causa da cor das searas

Ex.: “O adolescente é sempre Belo, tudo lhe fica bem, mesmo na morte, tudo nele é belo”
Em Homero o belo aparece associado ao Bem, à Conveniência e ao decoro.
Conveniência: É uma harmonia entre o humano, o meio e os seres

Temas estéticos em Homero

De onde vem a poesia?
Vem das musas, dos Deuses
- Qual é o objectivo da Poesia?
É espalhar a alegria, a fruição e o encanto entre os humanos
-Qual o efeito da poesia nos seres humanos?
A poesia é como um feitiço, um encantamento
-Para Homero a poesia não é vista como uma arte autónoma, mas como um privilégio que vem dos deuses.

Porque é que Homero faz questão de atribuir às Musas e não a si próprio a capacidade de produzir o memorável?
Homero relata-o a lenda, do poeta Támiris, o Trácio. Atribuindo a si próprio a genialidade dos seus poemas, Támiris desafiou as Musas para um duelo. Tendo sido derrotado, as Musas lhe tomaram o talento e a visão.
O poeta faz questão de depender das Musas porque tal associação o enobrece.
Ele considera-se o discípulo e o favorito dos deuses. Assim, de certo modo, é como se deles descendesse.
Homero faz Ulisses declarar que "entre todos os homens da terra, os poetas merecem honra e respeito, pois a eles a Musa, que ama a raça dos poetas, ensinou".


•Com isso, o poeta conquista a liberdade de cantar, nas palavras de Telémaco, na "Odisseia", "por onde quer que a mente o conduza".
•Se não tivesse sido atribuída origem divina às palavras do poeta, elas jamais teriam conquistado semelhante liberdade.
Quem legitima a liberdade do poeta são as Musas, mas quem garante a existência das Musas é o poeta.
A evidência de que as Musas possuem o poeta é sugerida pelos versos nos quais o poeta Teógnis afirma que as Musas cantavam "um belo poema: o belo é nosso, o não belo não é nosso".


A beleza dos poemas é prova de sua origem divina, e sua origem divina legitima a liberdade do poeta.
Por direito, seus poemas são belos por serem divinos; de facto, porém, são divinos por serem belos.
O objectivo do poeta não é fazer o poema "verdadeiro", mas fazer, por onde quer que – sua Musa – o leve, o poema inesquecivelmente belo, o poema memorável pela sua beleza; e a primeira exigência do seu público não é escutar um poema "verdadeiro", mas um poema cuja origem se encontre na dimensão da divindade ou seja, um poema que lhe dê prazer estético, pois o "cantor divino" é, como se lê na "Odisseia", aquele que "delicia ao cantar".
Uma vez que o puro esplendor e beleza do poema constitui a prova da sua autoria divina, nele as considerações morais ou religiosas estão subordinadas a considerações estéticas.

Para Homero os poetas tinham uma tarefa divina:
“A sabedoria dos poetas vem das Musas” Íliada, II, 484
“A poesia é mais durável que a vida” Odisseia, VIII, 578

Poesia Lírica

A Poesia lírica nasceu na Grécia antiga acompanhada de instrumentos musicais como a Lira e a Flauta, nos versos de Safo e Alceu
Há poetas líricos Eróticos, Heróicos e Elegíacos

Com os poetas líricos a beleza vai-se tornando individual e humana
Ex. A Beleza é a juventude” Safo
A beleza aplica-se também ao som da harpa, da lira e à arte no geral enquanto produto humano.
Para os poetas líricos há uma antropomorfização da Beleza. Por ex. As paisagens tornam-se estados de alma




SAFO

A Poesia lírica nasceu na Grécia antiga acompanhada de instrumentos musicais como a Lira e a Flauta.
Safo foi uma poetiza grega que viveu no ano 600 a. C..viveu na cidade Lesbos de Mitilene, acivo centro cultural no século VII a.C.. Nascida algures entre 630 e 612 a.C., foi muito respeitada e apreciada durante a Antiguidade, sendo considerada "a décima musa“ por Platão.
Safo era comparada a Homero em plena Antiguidade


Still holding in that fearful leap
(By her loved lyre) into the deep
And dying, quenched the fatal fire
At once, of both her heart and lyre”
Thomas Moore, Evenings in Greece,1826

Ainda em queda nesse salto temeroso
(Pela sua amada lira) dentro das profundezas
E ao morrer, apagou o fogo fatal
do seu coração e da sua lira, por um único golpe.


A sua poesia, devido ao conteúdo erótico, sofreu censura na Idade Média por parte dos monges copistas,que mandaram queimar a sua obra e o que restou foram escassos fragmentos.
Contavam que se tinha suicidado saltando de um precipício na ilha de Leucas, apaixonada pelo marinheiro Faonte - facto que é descrito também em Menandro, Estrabão e Ovídio.
Não há consenso de que isto seja verdade. Escritos sobreviventes atestam que Safo teria atingindo a velhice, e o certo é que não se sabe como nem quando ela morreu, sendo considerada por alguns a maior de todas as poetisas.


“Um homem belo, só o é na aparência. O homem bom será igualmente belo.”
“A morte é um mal. Foi assim que os deuses o entenderam; de contrário, seriam mortais”.
"Safo era maravilhosa pois em todos os tempos que temos conhecimento não sei de outra mulher que a ela se tenha comparado, ainda que de leve, em matéria de talento poético." Estrebão

SAFO - Citações


Sappho de Charles Mengin 1877


Para Anactória
A mais bela coisa deste mundo para alguns são soldados a marchar, para outros uma frota; para mim é a minha bem-querida.
Fácil é dá-lo a compreender a todos: Helena, a sem igual em formosura, achou que o destruidor da honra de Tróia era o melhor dos homens,
e assim não se deteve a cogitarem sua filha nem nos pais queridos: o Amor a seduziu e longe a fez ceder o coração.
Dobrar mulher não custa, se ela pensa por alto no que é próximo e querido. Oh não me esqueças, Anactória, nem aquela que partiu:
prefiro o doce ruído de seus passos e o brilho de seu rosto a ver os carrose os soldados da Lídia combatendo cobertos de armadura.

“Um homem belo, só o é na aparência. O homem bom será igualmente belo.”
“A morte é um mal. Foi assim que os deuses o entenderam; de contrário, seriam mortais”.
"Safo era maravilhosa pois em todos os tempos que temos conhecimento não sei de outra mulher que a ela se tenha comparado, ainda que de leve, em matéria de talento poético." Estrebão






A Beleza na Tragédia

A Tragédia é o apogeu do pensamento pessimista.
Representação da angústia e do desvario humano bem como do espírito da justiça e vitória da Razão.
Apolo / Diónisos
Racional e Irracional
A literatura grega reúne três grandes tragediografos, cujos trabalhos ainda existem: Ésquilo, Sófocles, Eurípedes
Ésquilo: vulnerabilidade do humano: o Prometeu Agrilhoado
Sófocles: O homem é fraco e submetido à necessidade. Ex. O Rei Édipo
Sófocles: Celebra a grandeza moral do ser humano.
Ex. “Nada é mais belo do que morrer pelo nosso dever” Antígona

A Tragédia desvela o drama da humanidade: o ser humano face às forças do universo que ele não domina
O sofrimento humano vivido com dignidade
Aristóteles define a Tragédia como uma representação de uma Acção grave com uma certa extensão e completa, com actores a agir e não a narrar, a qual inspira pena e terror, operando a catarse dessas emoções.

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