16 setembro 2010

1ª Lição - O que é a Estética? A Estética do período Clássico
































ESTÉTICA
No domínio da Filosofia, o termo Estética designa Teoria acerca da Arte.
A Estética Filosófica analisa a experiência estética em geral, as diferentes concepções filosóficas de beleza e os diversos modos de conceber a arte, enquanto actividade humana fundamental.
Etimologicamente Estética deriva do grego Aísthesis, que significa sensação, experiência sensível. A dimensão sensorial da experiência estética não impede a mobilização de uma componente cognitiva e racional.
A experiência estética não se pode reduzir a uma vivência sensorial.
nPorque será que existem coisas, naturais ou artificiais que nos causam admiração, atracção, repulsa?
nEstética, do termo grego Aisthesis, é precisamente isso, essa sensação perante o que é belo, o que é agradável, o que é sublime, etc

A Estética estuda o juízo e a percepção do que é considerado belo, a produção das emoções pelos fenómenos estéticos, bem como as diferentes formas de arte e do trabalho artístico; a ideia de obra de arte e de criação; a relação entre matérias e formas nas artes.
Por outro lado, a estética também pode ocupar-se da privação da beleza, ou seja, o que pode ser considerado feio, ou até mesmo o grotesco.
A estética do período clássico parece concentrar-se na categoria da Beleza, na Harmonia, naquilo que produz uma sensação de prazer, comprazimento,
Mas a estética ocupa-se de muito mais, também da dor, do sofrimento, da dor que causa prazer, ou do prazer que causa dor, do feio, do asqueroso, etc.
Ex. obras de arte que politicamente comprometidas (Arte Contemporânea de protesto) pretendem chamar a atenção para determinada realidade através do horror

Teresa Margolles- Catafalco / 2005/ Adesão de matéria orgânica a gesso


Marina Abramovic, Balkan Baroque I, 1997
(performance que denuncia as atrocidades da guerra dos Balcãs recorrendo a partes de corpos de animais mortos)




A estética sobretudo a partir dos anos 60 do séc. XX “fartou-se” da categoria da Beleza, que se teria convertido num valor burguês e quase numa proximidade entre a arte e a decoração, e passou a usar outras formas de comunicar por vezes subversivas.
Nos anos 90, por ex. até a Beleza pode ser subversiva  e não apenas o feio ou o asqueroso, como no seguinte caso (A beleza do corpo masculino, apologia da homosexualidade):



Felix Gonzalez-Torres (1957-1996)


Que utilidade terá a estética?
O tema da utilidade é de grande complexidade, uma vez que aquilo que é estético num objecto prende-se precisamente com o seu desinteresse utilitário. Por ex. o elemento estético de um automóvel prende-se com a beleza do se design e não com a sua potência ou segurança.
Kant dirá que a obra de arte é uma finalidade sem fim! A utilidade da estética radica sobretudo na sua inutilidade.
Num mundo dominado pelo imperativo da eficácia das coisas, a estética ainda fará sentido?
A experiência estética permite pôr de parte esse imperativo dominante e ter uma relação original e directa com as coisas, sem a mediação do lado útil, prático, eficaz, valorativo, interesseiro…

A estética é a esperança de uma abertura a um âmbito que é completamente distinto do da nossa vida quotidiana, tal como o próprio ponto de vista filosófico em si que nos remete para um corte com o plano do senso comum
A estética adquiriu autonomia como disciplina filosófica, destacando-se da metafísica, lógica e da ética, com a publicação da obra Aesthetica do educador e filósofo alemão Baumgarten, em dois volumes, 1750-1758.
Baumgarten traz uma nova abordagem ao estudo da obra de arte, considerando que os artistas deliberadamente alteram a Natureza, adicionando elementos de sentimento a realidade percebida.
Assim, o processo criativo está espelhado na própria actividade artística. Compreendendo então, de outra forma, o prévio entendimento grego clássico que entendia a arte principalmente como mimesis (cópia) da realidade.

nAs revoluções artísticas dos dois últimos séculos, ao alargar de tal modo o universo de objectos que passaram a ser catalogados como arte, acabaram por despertar nos filósofos vários problemas que se tornaram o centro das disputas estéticas.
nÉ o caso dos problemas de filosofia da arte como "O que é arte?" e "Qual o valor da arte?",


n   "Toda a gente conhece obras de arte. Encontram-se obras arquitectónicas e pictóricas nas praças públicas, nas igrejas e nas casas. Nas colecções e exposições, acham-se acomodadas obras de arte das mais diversas épocas e povos. Se considerarmos nas obras a sua pura realidade, sem nos deixarmos influenciar por nenhum preconceito, torna-se evidente que as obras estão presentes de modo tão natural como as demais coisas. O quadro está pendurado na parede, como uma arma de caça ou um chapéu. Um quadro como, por exemplo, o de Van Gogh, que representa um par de sapatos de camponês, vagueia de exposição em exposição. Enviam-se obras como o carvão de Ruhr, os troncos de árvores da Floresta Negra. Em campanha, os hinos de Hölderlin estavam embrulhados na mochila do soldado, tal como as coisas de limpeza. Os quartetos de Beethoven estão nos armazéns das casas editoriais, tal como as batatas na cave.
nA obra de arte é, com efeito, uma coisa fabricada, mas ela diz ainda algo de diferente do que a simples coisa é (…). A obra dá publicamente a conhecer outra coisa, revela-nos outra coisa;
nela é alegoria.
nÀ coisa fabricada reúne-se ainda, na obra de arte, algo de outro (…) a obra é símbolo."

nHeidegger, M., A Origem da Obra de Arte, pp. 12-13.

nPara Georges Bataille, a arte é o signo da hominização; Lascaux é o símbolo da passagem do animal ao homem, é «o lugar do nosso nascimento» porque «se situa no começo da humanidade cumprida»; «é o sinal sensível da nossa presença no universo»; «nunca antes de Lascaux atingimos o reflexo dessa vida interior da qual a arte – e só ela –assume a comunicação». As suas declarações têm a força da convicção: «Nenhuma diferença é mais vincada: opõe à actividade utilitária a figuração inútil desses signos que seduzem, que nascem da emoção e se dirigem a ela [...] sentimento de presença, de clara e ardente presença, que nos dão as obras-primas de todos os tempos».
nArte: conceito de recreio, lazer, inutilidade, especificamente humano
(O Nascimento da Arte de Georges Bataille)

EXEMPLO
nO CHIMPANZÉ PINTOR
nDeram-se algumas tintas e papel à Betsy, uma chimpanzé do Jardim Zoológico de Baltimore, com os quais ela criou vários produtos alguns dos quais podem chamar-se pinturas. Ainda que os trabalhos de Betsy não sejam obras primas, elas são inegavelmente interessantes e, à sua maneira, chamativos. Foram expostos no Fiel Museum of Natural History em Chicago algumas peças seleccionadas do trabalho de Betsy. Suponha que, no mês seguinte, aquelas mesmas peças são exibidas no Chicago Art Institute, e que nas duas exposições os trabalhos de Betsy foram muito admirados pelos visitantes
nSerá a arte um fenómeno exclusivamente humano?
nOs animais podem ter capacidade e motivação para as artes plásticas. Basta oferecer-lhes tintas e pincéis que eles, inicialmente, passam a explorá-los e, depois, a manchar telas de modo abstracto quando estas lhes são oferecidas.
nChegaram a comparar na “Folha de São Paulo”, a pintura de Willen De Kooning, um dos grandes pintores do século XX, um notável do abstracionismo à pintura produzida pelo primata.

“Uma obra de arte no sentido classificativo é (1) um artefacto, (2) sobre um conjunto de aspectos do qual foi conferido o estatuto de candidato para apreciação por uma pessoa ou pessoas actuando em nome de uma certa instituição social (o mundo-da-arte).”
   [ Dickie, "What is Art?", pp. 23]


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Na antiguidade - especialmente com Platão, Aristóteles e Plotino - a estética era estudada fundida com a lógica e a ética. O belo, o bom e o verdadeiro formavam uma unidade com a obra. A essência do belo seria alcançado identificando-o com o bom, tendo em conta os valores morais. Na Idade Média surgiu a intenção de estudar a estética independente de outros ramos filosóficos.



O objectivo da Estética é descrever e compreender o fenómeno estético nas suas várias dimensões.

A experiência estética é sempre vivida por um sujeito, pode ser comunicada, mas não pode ser transferida, é subjectiva
Esta experiência estética é de cada vez determinada por um contexto cultural: educação, herança cultural, aprendizagem, contexto histórico-social.
Há 2 tipo de sujeito na experiência Estética: artista e espectador
Há 2 tipos de objecto: natureza e obra de arte
A criação envolve: sensibilidade, talento, destreza, originalidade, etc.
A contemplação envolve: capacidades sensoriais, sensibilidade

A experiência estética é marcada pelo desinteresse utilitário
A beleza não está ao serviço de resultados práticos
Possui uma finalidade dentro de si e não fora de si
Não é um meio para atingir um fim, mas um fim em si próprio

ATITUDE ESTÉTICA

Para se compreender o que é Atitude Estética, pensemos no conceito de:



Distância Psíquica:
Colocar um fenómeno fora das nossas necessidades básicas e tentar observá-lo objectivamente.
Trata-se de um estado psicológico necessário para apreciar obras de arte verdadeiramente.
Por exemplo: nO distanciamento psíquio ideal estaria entre estes dois:
1- Perante uma peça de teatro alguém só presta atenção a questões técnicas de encenação/ representação
2- Perante uma cena trágica o espectador sobe para o palco para salvar um personagem em apuros
Não confundir desinteresse com indiferença
Mtos aspectos podem nos distrair de uma atenção desinteressada.
Esta tem de ser imparcial e desligada de aspectos financeiros, interesseiros ou subjectivos.
A atitude estética é um estado de contemplação destituido de vontade, de interesse e de considerações práticas ou quotidianas que pressupõe a existência de objectos estéticos que despertem um tal estado psicológico.

Hegel- tese do Fim da ARTE


nA tese do “fim da arte” foi apresentada por Hegel com vista a distinguir o estatuto da arte na época clássica e a sua função na modernidade. 

nSe as vanguardas se apresentam como uma crítica da arte anterior, as neo-vanguardas, especialmente a arte conceptual, possuem o sentido de uma auto-consciência, de uma reflexão da arte sobre si própria, o que Hegel também havia anunciado.
nNesse sentido, “a determinação suprema da arte é, no seu todo, algo passado”, dado que “a representação peculiar da arte já não tem para nós a imediatez que tinha no tempo do seu apogeu supremo”. Assim, “o ponto de vista daquela cultura onde a arte adquire um interesse essencial já não é o nosso […]; a representação, a reflexão ou o pensamento são agora preponderantes e por isso a nossa época está principalmente orientada para as reflexões e o pensamento sobre a arte” (Estética)
nEm 1969, Joseph Kosuth afirmava que
n“actualmente, ser artista significa interrogar-se acerca da natureza da arte.”

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