22 março 2011

2ºS. 5ª Lição- Pico della Mirandolla acerca da Dignidade humana

Renascimento- Dignidade Humana

Giovanni Pico della Mirandola "Discurso sobre a Dignidade do Homem"(Extracto)

 

Retratos de Pico della Mirandola 1463- 1494 (Galeria Uffizi- Florença)


Li nos escritos dos Árabes, venerandos Padres, que, interrogado Abdala Sarraceno sobre qual fosse a seus olhos o espectáculo mais maravilhoso neste cenário do mundo, tinha respondido que nada via de mais admirável do que o homem. Com esta sentença concorda aquela famosa de Hermes: "Grande milagre, ó Asclépio, é o homem".
Ora, enquanto meditava acerca do significado destas afirmações, não me satisfaziam de todo as múltiplas razões que são aduzidas habitualmente por muitos a propósito da grandeza da natureza humana: ser o homem vínculo das criaturas, familiar com as superiores, soberano das inferiores; pela agudeza dos sentidos, pelo poder indagador da razão e pela luz do intelecto, ser intérprete da natureza; intermédio entre o tempo e a eternidade e, como dizem os Persas, cópula, portanto, himeneu do mundo e, segundo atestou David, em pouco inferior aos anjos.
Grandes coisas estas, sem dúvida, mas não as mais importantes, isto é, não tais que consintam a reivindicação do privilégio de uma admiração ilimitada. Porque, de facto, não deveremos nós admirar mais os anjos e os beatíssimos coros celestes?
Finalmente, pareceu-me ter compreendido por que razão é o homem o mais feliz de todos os seres animados e digno, por isso, de toda a admiração, e qual enfim a condição que lhe coube em sorte na ordem universal, invejável não só pelas bestas, mas também pelos astros e até pelos espíritos supramundanos.
Coisa inacreditável e maravilhosa. E como não? Já que precisamente por isso o homem é dito e considerado justamente um grande milagre e um ser animado, sem dúvida digno de ser admirado (…)
Estabeleceu, portanto, o óptimo artífice que, àquele a quem nada de especificamente próprio podia conceder, fosse comum tudo o que tinha sido dado parcelarmente aos outros. Assim, tomou o homem como obra de natureza indefinida e, colocando-o no meio do mundo, falou-lhe deste modo: "Ó Adão, não te demos nem um lugar determinado, nem um aspecto que te seja próprio, nem tarefa alguma específica, a fim de que obtenhas e possuas aquele lugar, aquele aspecto, aquela tarefa que tu seguramente desejares, tudo segundo o teu parecer e a tua decisão. A natureza bem definida dos outros seres é refreada por leis por nós prescritas. Tu, pelo contrário, não constrangido por nenhuma limitação, determiná-la-ás para ti, segundo o teu arbítrio, a cujo poder te entreguei. Coloquei-te no meio do mundo para que daí possas olhar melhor tudo o que há no mundo. Não te fizemos celeste nem terreno, nem mortal nem imortal, a fim de que tu, árbitro e soberano artífice de ti mesmo, te plasmasses e te informasses, na forma que tivesses seguramente escolhido. Poderás degenerar até aos seres que são as bestas, poderás regenerar-te até às realidades superiores que são divinas, por decisão do teu ânimo".
Ao homem nascente o Pai conferiu sementes de toda a espécie e germes de toda a vida, e segundo a maneira de cada um os cultivar assim estes nele crescerão e darão os seus frutos. Se vegetais, tornar-se-á planta. Se sensíveis, será besta. Se racionais, elevar-se-á a animal celeste. Se intelectuais, será anjo e filho de Deus, e se, não contente com a sorte de nenhuma criatura, se recolher no centro da sua unidade, tornado espírito uno com Deus, aquele que foi posto sobre todas as coisas estará sobre todas as coisas.
Quem não admirará este nosso camaleão? [...]"


Pico afirma: “exercendo sua liberdade, o homem decide sobre si e forma-se. Nesse sentido, o homem é causa de si mesmo. Mas ele o é a título de criatura e de imagem de Deus (...). É a imagem de Deus, no homem, fundamenta a liberdade e a dignidade da pessoa.
Um ser inacabado, imperfeito, cuja possibilidade de perfeição e desenvolvimento de suas potencialidades é infinita, ou pelo menos de inimaginável delimitação. Através do inalienável e soberano poder de sua vontade, é livre para ter o porte, a estrutura moral, intelectual e profissional que desejar.
É a essa autonomia que Pico se refere ao reconhecer impresso no homem o poder de controlar a sua natureza. Racional, consciente de si, capaz de conhecer e desvelar os segredos da realidade, ordenar a matéria e sobretudo livre para agir, o homem não é somente mero espectador da história, ele é protagonista. Somos dignos porque somos livres.



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Cornelius Agrippa of Nettesheim (sobre a Melancolia)

De Occulta Philosophia -  no final da obra expõe o tema da Melancolia
Publicado em 1531, este livro famoso é uma fonte do Fausto de Goethe.
Muito influenciado por Marsilio Ficino, mistura a astrologia e a magia natural que opõe à necromancia (comunicação com os mortos para adivinhar o futuro) e ao comércio com o demónio.
A grande diferença entre ambos é a pequena referência explícita de Agrippa à Arte.~

Agrippa distingue entre 3 tipos de génios, todos de humor melancólico e segundo o impulso de Saturno
I- Os imaginativos- ex. artistas, artífices
II- Os discursivos- ex. políticos, cientistas
III- Os intuitivos- ex. profetas, visionários


Pode-se colocar a hipótese de Dürer descrever a Melancolia de tipo 1, dos imaginativos, por isso o título “Melancolia I”

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